quarta-feira, abril 19, 2006

A verdade do sonho -parte 2 (04/04/2005 - 09/09/2005)

Ela não pensara que em uma noite chata de um domingo ela pudesse ter a oportunidade de virar minhoca. Não que fosse o maior desejo de sua vida, mas brincar dessa metamorfose abrangente seria algo que ela não recusaria. Então, de vestidinho verde, exibindo toda sua perna branca para a madrugada, pegou a bolsa e entrou dentro de uma caixa preta que vinha em sua direção. Só ela, o motorista da caixa preta e a amiga das oportunidades sabem o quanto aquilo tudo foi inusitado. Uma conversa ali, outra aqui, uma névoa distorcendo os corpos e foi quando de repente a caixa preta se transformou em um mundo à parte de todo o mundo que existe de verdade. Vontade de abrangências devastando o espírito, o motorista deu a poção para que ela tomasse e se transformasse em minhoca, mas no meio do caminho desistiu de brincar de alquimista. Minhoca meio humana, meio minhoca, começou a pensar na metafísica e na moral de toda a situação, mas como estava acompanhada pela amiga das oportunidades, nada retilíneo ela conseguia pensar, nada claro ela conseguia dizer. E seu pensamento não saía das abrangências… Foi quando ela e o motorista começaram uma divertida brincadeira de palavras, “eu digo”, “você diz”, “e agora?”, “sua vez”, “onde você está?”, “estou no tópico”, “como você foi parar aí?”, “foi você quem me levou”, “como eu te levei?”, “você me deu a mão”, “achei que eu estava falando quando eu te levei”…E então o tópico do jogo de palavras virou o tópico de um jogo de ações, em que ela se embebia na poção de minhoca, de forma delicada e calma, até que o motorista, mais uma vez, não quis ser alquimista. Tudo bem, pois passear de caixa preta na escuridão de um domingo foi gostoso, foi legal. E, já de volta, deitada em sua cama, as abrangências foram as donas de todo o resto de seu sonho.

Minhoca, somente sua.
Rainha da idade de pedra.

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