quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Além da realidade

É doença virtual, uma espécie de vírus. Nunca pensei que uma simples máquina aparentemente inofensiva, tivesse tamanho poder de influenciar as vidas de pobres cidadãos, perdidos no mundo tentando encontrar um sentido para toda aquela balbúrdia em que se encontram. A vida talvez fosse no mínimo um pouco mais interessante naqueles tempos antigos, em que a coisa a toda era vivida de verdade, ali, no cara a cara ou no olho no olho. Agora, não. O tempo brinca de corrida de São Silvestre enquanto pessoas constroem seus destinos em frente de uma tela de um computador. O Senhor Computador. É ele quem rege as almas que estão em busca de sabe-se-lá-o-que, da vida alheia, de uma alma gêmea, que seja… O rei dos novos tempos. Ele que tem a capacidade de destruir corações e amores, esperanças e mentiras. E todos estão lá, loucos, viciados. Doença psicológica do mundo moderno. Por ele podemos ser o que nossa fértil imaginação permitir, homem que vira mulher, fada que vira bruxa, menino doce que vira garoto amargurado, covardes que no simples tocar de umas teclas viram grandes valentões. Voyeurismo doentio, paranóico que parece ter virado combustível da vida. Passar um dia sem bisbilhotar o que acontece lá dentro é como acordar e não tomar café da manhã.

Falando como alguém de fora? Não sejamos hipócritas: eu, você, eles e aqueles outros, todos fazemos parte disso. Será algo intrínseco ao ser humano? A necessidade de se interessar por aquilo que não lhe diz respeito? Curiosidade aguçada. É um tanto quanto bizarro pensar que alguns de meus relacionamentos tenham sido desfeitos por meio da grande rede. É um tanto quanto bizarro pensar que eu possa ter uma gastrite aguda por ficar lendo e vendo coisas que não me agradam nesse mundo virtual. É mais bizarro ainda pensar que talvez eu possa passar minha não esperada velhice em cima de uma cadeira de rodas com problemas na coluna pelo simples fato de ter passado quase toda minha juventude em frente a uma dessas máquinas horrorosas. Esse mundo todo é como um camaleão, não decide qual cor quer vestir para seguir em frente.

No entanto, cá estou eu. Doente de doença moderna. Deixando todo esse bizarrismo me afetar. Mas que há eu de fazer? Chamar meus amigos para brincar de bola na rua, se eles estão enclausurados em suas casas doentes como eu em frente a um computador? Talvez eu deva jogar bola sozinha.

13:03 +