Oi. Sou Luísa. Às vezes Worm, às vezes Uórmi, às vezes Uó, às vezes Lu, às vezes Minhoca, às vezes um monte de coisas. E essa noite eu não dormi. Oi. Porque você veio me ver nesta madrugada? Eu já estava dormindo e você fez o favor de entrar no meu quarto. Mas que saco! Não percebe que sua presença não é bem-vinda? Porra! Tantos planos, tantos objetivos, tantas Luísas em construção se perdendo na bagunça de si mesma. Uma alma boa, maldade, maldade e bondade se intercalando na angústia daquilo que foi construído e depois depredado. Depredar parece ser sua melhor façanha. Menina teimosa, tão menina e tão mulher. Oi. Eu trabalho, tenho salário, amigos, família, faculdade, fanzine, banda em andamento e uns homens que me querem bem. Também quero o bem deles, mas longe de mim. Não, obrigada, um beijo, tchau, estou bem sozinha. Bastante bem, diga-se de passagem. Oi. Menino malvado que me deixa melhor do que minha terapeuta. Ah, como você me faz bem. Adoro passar horas dedicada ao meu menino malvado, porque ele é malvado mesmo, mesmo, mesmo! Mas ele é um doce de criatura, apesar de não saber nada sobre mim. Também não interessa saber sobre mim. Mim ser mim because of you. Oi. São tantas coisas, tantas informações, que eu me sinto mais fragmentada do que eu já sou nessa porra de sistema em que eu vivo, nessa porra de cidade suja em que eu moro, nessas merdas de ônibus xexelentos em que eu ando. Tenho medo de pegar piolho, pulga e micose. Sim, porque é possível pegar essas coisas nos ônibus. Na estação de trem os ratos ficam passando o tempo todo. Parece uma cidade de ratos. Existem cerca de cinco ratos para cada indivíduo na cidade de São Paulo. Não queria pensar no número de baratas. Tchau. Preciso trabalhar para encher o cu do patrão de dinheiro. Assim é feita a vida.
Nem todas as drogas do mundo vão te salvar de você mesmo.