Às vezes eu tenho nojo de gente. Tenho nojo, assim, de não querer olhar na cara de ninguém, um desprezo, uma atitude altamente prepotente. Eu tenho. Mas depois passa e eu quero ser amiga das pessoas e descobrir o lado legal delas. Se é que elas têm. Eu tenho um nojo assim, da sua falsidade, do seu sorriso amarelo, do seu interesse dissimulado. Eu tenho nojo de pessoas dissimuladas. Dessas eu tenho nojo sempre, como tenho nojo de pessoas mentirosas sempre. Às vezes as pessoas fedem. Fedem assim, de verdade, você chega perto delas e elas exalam cheiro ruim, mas que na verdade não tem cheiro. Ser dissimulada deve fazer mal à mente. Mente. Gente dissimulada mente. Vômito pra você.
O que importa pra você o que o meu namorado faz da vida? O que ele faz? É meu namorado. Eu tenho vontade de vomitar em pessoas que perguntam esse tipo de coisa: o que o seu namorado faz? Eu respondo: namora comigo. O que você espera? Que eu diga que ele é um cara com visão de futuro, bem sucedido, um cara altamente renomado, que pensa em casar comigo, constituir família, almoçar com meus pais aos domingos, levar as crianças para passear no Parque Ibirapuera, um cara que se sente feliz por ter o carro do ano, que conquistou com tantos anos de trabalho, exploração, opressão e humilhação e vive na ilusão burguesa de vida feliz? Não, esse nunca será meu namorado.
- E você, namora? - Namoro. - E o que ele faz? - Como assim o que ele faz? Faz um monte de coisa. - Não, eu digo, ele trabalha, estuda? O que ele faz? - O que ele faz? - É! - Namora comigo.
Sua estúpida. Vômito pra você. Enfia dois dedos na tomada, pra ver se com um choque seu cérebro não passa a funcionar. Estúpida.