Eu fui lá pra fazer acontecer. Eu fui, andei, suei, sorri e me diverti. Mas não fiz tudo acontecer. Só algumas coisas. Cola na mão é um barato, muito legal ficar arrancando pedacinhos de cola seca da mão, que se tudo tivesse seguido para outro caminho não estaria se sujando nos postes da cidade, estaria fazendo carinho no seu rosto. Mas eu vou aí, sujar o seu poste. Sujar minha mão no seu poste. E depois eu não vou querer lavar, vou deixar ela bem sujinha que é pra eu não esquecer da sujeira do seu poste. Eu fui achando que iria sentir o cheiro de couro carente, eu fui achando que poderia começar a ensaiar para brincar de bailarina e no final ficar morta de cansaço. Morta de cansaço eu fiquei, mas não brinquei de bailarina. Despedidas me fazem chorar. O fim me faz chorar. Chorar no fim de um livro, chorar no fim da novela, chorar no fim de um namoro, chorar no fim de uma banda, chorar no fim de uma viagem, chorar no fim de um filme, chorar no fim de um telefonema. Só não choro no fim de uma música. Se a música me faz chorar, é durante. Vai tocando, tocando, tocando no rádio, no seu corpo, e eu vou pensando, pensando, pensando e chorando e o sentimento de que existe uma mão invisível que apalpa meu coração forte, e ela vai apertando, apertando, como se fosse um botão que me fizesse chorar e as lágrimas vão saindo, saindo, uma a uma, duas juntas, três, até secar. As lágrimas, porque a mão continua apalpando, apalpando, apalpando, forever. E a minha mão colando, colando, se sujando, se machucando.