Um pouco de ácool para esquecer a canseira do dia. Mais um dia de trabalho, 15 reuniões, 6 contratos assinados, gente corrupta, interesseira, falsa, que chega de Audi em um lugar em que os trabalhadores ganham o suficiente para viver bem. - Nada de ir pra ginástica! Estou cansado. Então, aquele homem de quase 54 anos, contente por estar trabalhando, mas cansado da carga de trabalho, senta-se no balcão do bar e toma uma água tônica. E depois da água tônica um pouco de álcool, porque ele merece. Ele merece porque é um homem ético, honesto, sempre defendeu os fracos, ajuda a quem precisa, viveu intensamente, teve muitas mulheres, amou profundamente algumas, outras foram apenas diversão, e outras o amaram mais do que tudo sem serem correspondidas. E ele leu Marx, gosta de Trótski e Lênin, defende a revolução de Fidel, odeia os conservadores e reacionários, sabe de história, de política, de botecos, da vida. Ele merece porque é um cara mais do que especial. Depois de tomar aquela que lhe faz bem, aquele homem que todos no mundo deveriam ter a oportunidade de conhecer, vai para casa. Cansado. Tomate, cebola, carne, temperos. Um milho, um vinho e histórias para contar enquanto seu jantar não fica pronto. Conta sobre o seu dia, sobre seus amigos, critica uns, aquela mulher horrorosa, a outra do Audi e aquele cara que posou pra G Magazine e diz “a mãe dele quer que você case com ele”, e pra ele é tudo culpa do chocolate e “vamos jogar essa lavadora pela janela, e no lugar dela colocamos o liquidificador”. Ele pode parecer chato por criticar tudo e todos, mas ele sabe o que está falando. Ele sabe o que está falando e ela sabe o que está ouvindo. Ela ouve, pensa, analisa, sente. E aquele início de madrugada se torna um fim de um dia feliz. Feliz porque ela ama. Ama aquele homem mais do que qualquer coisa no mundo. E os dois dormem em paz.