domingo, março 06, 2005

Speed, speed, speed...

Tudo ilusão.
Ilusão pensar que a vida é uma balada, que todas as pessoas são legais, que dançar música eletrônica é a melhor coisa do mundo, que todos são seus amigos.
A balada é uma espécie de droga.
Balada regada a drogas e relações afetivas falsas e superficiais é uma espécie de suicídio.
Um suicídio lento e gradual.
Baladas são feitas para as pessoas sozinhas e tristes se anestesiarem.

Cinco horas da manhã São Paulo já começa a funcionar. Ônibus, carros, pessoas indo para o trabalho. Pessoas voltando da balada.
Pessoas voltando da balada, muito loucas, como se a noite tivesse sido a melhor de suas vidas. A loucura é tanta que não é possível nem mais sentir o corpo. Caminhar quilômetros e quilômetros não faz a menor diferença, o importante é caminhar, sem destino, em passos rápidos, como se fugisse de algo. Como se fosse atrás de algo. Algo indefinido. Talvez fugindo da ilusão em busca de outra ilusão, porque a realidade não é perseguida por ninguém.

O coturno aperta, as costas doem, a maquiagem está borrada e ela se sente forte. Não pensa, apenas sente. Apenas tem autoconfiança. E não queria que a balada tivesse acabado. E não queria sair da sua ilusão. E não queria fugir de sua acidez. E queria falar com alguém às seis horas da manhã.
Em casa, pensa nas pessoas. Pensa nas pessoas da balada. Que transparecem felicidade, determinação, mas que na verdade talvez se sintam pior do que ela. Está nos olhos. Os olhos, que são a janela da alma, os olhos… Os olhos que te dei. Os olhos mostram a fuga de todas essas pessoas. Lembra de um cara trash, muito bêbado, que deixava transparecer sua carência, sua tristeza. Dançando se aliena do mundo.

Os caras não entendem que ficar pegando não é legal?

Todos os mecanismos existentes são utilizados para anestesiar a sociedade. A droga, a balada, a TV, o rádio, a internet, as propagandas publicitárias, a religião, o consumo, os relacionamentos falsos. Até o amor virou produto. Para alguns, anestésico. Enquanto há as pessoas que não percebem que fazem parte desse teatro e continuam em busca da felicidade ilusória, há aquelas que percebem o meio no qual estão inseridas e se desesperam com isso, e o único remédio que conseguem visualizar é a maior de todas as fugas: a morte.

A balada acabou.
A droga também.

“Bem-vindo ao pesadelo da realidade”.

17:15 +