segunda-feira, março 21, 2005

Nothing hurts like your mouth

Alguém poderia me explicar porque eu preciso ler pra escrever? E porque eu gosto de escrever? Só que eu gosto de escrever quando dói. E doer dói. Então eu preciso doer pra escrever, e escrever me mantém viva, logo eu me mantenho viva quando estou doendo, me mantenho viva quando estou querendo morrer. Preciso querer morrer para viver. Que paradoxo.

Escrever talvez seja um meio de me livrar da minha dor. Por isso talvez me faça bem. É um remédio. E remédios viciam, então eu sou viciada em escrever. Sobre mim. Eu gosto de escrever sobre mim, sobre os meus problemas, sobre o que eu sinto, sobre o que eu passo, sobre o que me dói. Adoro essa palavra: dor. Dói falar a palavra dor. E a palavra cicatriz também é bonita. E também dói falar "cicatriz". E o que é bonito dói. A palavra "cicatriz" dói, a palavra "dor" dói e as duas são bonitas. E tudo o que é belo dói. Dói olhar pra você e ver o homem mais lindo do mundo. O amor é lindo, mas dói demais sentir. A saudade é bonita, mas dói.

Posso ser uma mulher individualista (sim, mulher, porque agora eu sou mulher), que só gosta de escrever de si mesma. Mas é a partir do que eu sinto, do que eu passo, que eu começo a pensar no mundo. E toda essa minha dor do mundo me faz querer melhorar o mundo, e me faz uma pessoa crítica e talvez eu me torne uma jornalista igual a todos os outros pau-mandados da grande mídia, ou talvez eu me torne dona das minhas próprias opiniões, mas pobre, falida, depressiva. E dolorida.

Dói ler aquelas duas letrinhas, uma embaixo da outra. Dói, caralho! Me dá dor de estômago, dá vontade de vomitar, de quebrar tudo. Dói ouvir o som daquelas duas letrinhas, que são marca registrada. E isso é porque quem procura acha. Eu procuro, e acho. E isso dói. E eu tenho vontade de falar todos os palavrões do mundo, aqui mesmo, dentro dessa redação de revista, enquanto uns estão desesperados pra fechar a edição, outros ficam no telefone falando sobre o show que vai rolar na Funhouse e outros, como eu, ficam atrás de literatura na internet, se dóem, e ficam querendo escrever. Até que alguém fale: Luísa, você falou com aquela modelo? Luísa, liga pra esse número. Luísa, e a entrevista do João Gordo? Luísa, te mandei um e-mail. Luísa, Luísa, Luísa.

Okay. Estou no trabalho. Preciso trabalhar. Preciso continuar construindo minha vida e acho que estou descobrindo o que eu realmente gosto de fazer, o que realmente me atrai: música, literatura, política, amor, balada e sexo. Queria ganhar dinheiro só com isso. Fazer entrevistas é legal, ficar dentro de uma redação é legal, estar na faculdade é legal.

Falar de mim é legal.
Agora, só me resta doer.

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