O texto que segue abaixo é um texto de Clarah Averbuck, que eu tenho guardado há muito tempo. Ele foi escrito em novembro de 2002, época em que eu estava lendo o livro dela mais famoso, "Máquina de Pinball".
Não quero entrar na discussão quanto ao conteúdo da maioria das coisas que ela escreve, se é fútil ou não, se há uma crítica ou não, não quero falar sobre a escritora e sua personalidade, muito menos sobre se ela faz Literatura ou não. A questão nesse momento é que, na época em que eu li esse texto pela primeira vez, apesar de não ter nada a ver com a minha vida, me chamou a atenção de certa forma. Gostei dele na primeira leitura: uma espécie de tapa na cara. Gostei por ser um texto direto, sem meias palavras, em que ela consegue transmitir o que sente sem enrolações, de maneira simples, sem muito romantismo e com frases de efeito.
O texto, intitulado "Eu, Você e a Pangea Rachada", estava guardado até agora, esquecido numa pasta do Word. É hora dele mostrar as caras novamente, mas não mais através dela: pelas minhas mãos. Tomo como minhas as palavras de Clarah Averbuck:
Eu, você e a Pangea rachada Para o mesmo de sempre, o de antes
"Nunca mais vou acreditar em uma palavra saída desses seus dedos sujos, sejam elas roubadas ou aquelas de espuma branca que só você sabe fazer. Nunca mais.
Nunca mais quero ouvir a sua voz, te ver, te ler, te lembrar. Nunca mais quero ser sua amiga e ouvir o amargor de menino cristão, nunca mais quero te dar ombro quando você disser que está sem amor. Não quero, não quero, não vou.
Nunca mais, nunca mais, nunca mais.
Não mais amantes há tempos, agora, não mais amigos, não mais nada, nada, não.
Nunca mais vou ter paz. Não existe paz, só o meu cérebro fervilhando, entrando em erupção por cada fio de cabelo, cada poro, cada gota de suor.
E só você entendia.
Ou fingia entender.
Ou eu, idiota, inventei que você entendia porque tinha inventado tudo sem saber sobre a cordinha na sua mão.
A maior invenção do mundo até me puxar descarga abaixo.
Não vou te mandar me esquecer porque você já esqueceu.
Não vou te mandar sumir porque você já sumiu, sem adeus, sem uma carta, aviso prévio, bilhete suicida. Nada, simplesmente sumiu no silêncio do telefone mudo.
Eu já sabia.
E o pior, querido, é que você entendeu tudo errado.
Puxa a descarga mais uma vez, puxa com força e enfia sua cabeça lá dentro, deixa a água correr e tenta entender direito na próxima vez.
Você só perde.
Azar. Seu, meu, do resto do mundo.
Eu já sabia.
Você estraga tudo, tudo, tudo.
Obrigada por estragar tudo.
De novo. Do mesmo jeito covarde, aquele silêncio mentiroso que mata. Não saber mata. O silêncio é uma espécie de mentira. Prefiro um tiro no peito, o sangue jorrando e o mundo se esvaindo do que a dúvida me corroendo.
Você estraga tudo.
Mas foda-se.
Não quero mais brincar com você. Nunca mais. (...)"
Ps: Cortei o último parágrafo porque não gosto dele.