Ela não gosta do inverno. Acha essa estação do ano um tanto quanto melancólica, principalmente quando as nuvens negras insistem em não ir embora.
Deitada em seu macio colchão na madrugada, se encolhe o máximo que consegue e enrola seus pequeninos pés no meio dos edredons, tentando proteger-se do frio, que parece querer castigá-la. Olhando ao seu redor, tem a impressão de que tudo a observa, a todo e qualquer movimento ou pensamento que tenha. Seu quarto parece ler inclusive seu inconsciente, parece querer dizer-lhe algo, mas ela sente dificuldade para compreender.
Ao lado de sua cama, em cima do criado-mudo, não há uma foto dele, para quem ela olharia sempre antes de dormir - e adoraria que fosse assim. Há apenas, amarrado ao abajur, um cordão com um pingente de pedra de quartzo, que ganhou de um espanhol simpatizante dos zapatistas numa noite chuvosa de verão. A estação que ela mais gosta.