segunda-feira, junho 22, 2009

O Amor é uma doença incurável

- Oi.
- O que você está fazendo aqui?
- Não sei. Vim parar aqui.
- Você é louca.
- Talvez.
- Entra.
- Licença.
- Senta.
- Então. Não sei se eu tenho alguma coisa para te falar.
- Você disse que isso não aconteceria mais.
- É. Eu cumpri por um bom tempo, mas não deu. Eu não controlo essas coisas.
- Não chora.
- Já tô acostumada.
- Me dá sua mão.
- Eu gosto tanto quando você dá a mão pra mim.
- ...
- Mais ainda quando você dá esse sorriso.
- Me dá um abraço.
- Quantos você quiser.
- Engraçado. As coisas realmente não acontecem por acaso.
- Porque você está falando isso?
- Eu estava pensando em te ligar. De repente você aparece.
- Destino?
- Eu andei pensando muito nas coisas que eu li.
- É?
- É.
- Legal que elas te fizeram pensar. Uma pena não te fazerem agir.
- Não é verdade.
- É sim. Como sempre foi.
- Não é. Eu tomei algumas decisões. Tá tudo muito difícil pra mim.
- Eu sei. Pra mim também.
- Algumas escolhas têm que serem feitas.
- Já ouvi isso antes. E não foi legal.
- Tudo o que aconteceu era pra ter acontecido.
- Concordo em parte.
- Eu penso muito em você. Você sabe disso.
- Já falei que não é pra você ficar me falando essas coisas.
- Algumas coisas mudaram.
- É. Só se for pra você.
- Pra mim.
- E o que isso tem a ver comigo?
- O que tem a ver é aquilo que eu te disse uma outra vez que você esteve aqui.
- O que?
- Sobre o seu nome e o meu futuro.
- Ahn... Explica.
- Eu sempre te disse que eu nunca menti pra você. E aquele dia eu não menti.
- Mentiu.
- Tá bom, se você acha que eu menti.
- Acho.
- Eu quero comer carolinas. E tomar suco de laranja.
- ...
- Entrar no cinema de graça.
- Sobre o que você está falando?
- Sobre ficarmos juntos.
- Você deve ter surtado de vez.
- Talvez. Mas é o que eu quero agora.
- Como sempre você só pensando em você.
- Tá bom, então eu sou um egoísta! Eu estar querendo que a gente fique junto é egoísmo meu?
- Não. Você está certo. Desculpa.
- Eu que tenho que te pedir desculpas.
- Porque?
- Por não ter te ouvido antes. Por ter demorado pra entender algumas coisas. Por ter te feito chorar.
- Então você não está bravo por eu ter aparecido aqui às 6 horas da manhã de novo?
- Mais ou menos. Eu já tinha pedido pra você não fazer isso. Não gosto.
- Desculpa. Mais uma vez.
- Agora você já está aqui. E a gente já está conversando.
- Então vamos continuar...
- É isso, meu. Não tenho mais muita coisa pra falar.
- É isso o que?
- Posso te dar um beijo?
- Só se você não me deixar constrangida.
...
.
.
.
- Me abraça muito forte.
- Porque você está chorando?
- Não sei. Acho que é porque eu te amo.
- Quero tentar mais uma vez, Lu.
- Por você eu tento até o fim da vida.
- Então, vem, limpa esse rosto.
- Eu preciso ir trabalhar.
- Eu também.
- Me leva até a Estação de Trem?
- Levo. Só se você me der mais um beijo.
- Quantos você quiser.

23:25 +


quinta-feira, janeiro 18, 2007

Clarificando

i don't know if i make sense now. só sei que eu não tenho medo de nada. eu vivo porque é a única coisa que eu sei fazer. eu me jogo porque é assim que eu sou. uma força da natureza.

Quero conseguir dormir em paz sem sobressaltos, quero que os gatos parem de brigar e que o meu coração volte a bater num ritmo minimamente normal um dia desses, e eu quero não estar com esta voz de travesti rouco que tomou chuva e falou demais, eu quero paz, paz, paz, eu não consigo ter paz, assim eu não vou conseguir ter paz. Toda quebrada e sem defesa nenhuma. Sem estar toda fudida porque toda fudida eu já não fico mais. Mas toda quebrada e sem defesa nenhuma. Aquele vazio bem filho da puta. O dia cinza. Vontade de ficar parada e tentar cessar de existir. E de respirar. E de sentir só um pouco. Eu preciso de paz. Eu preciso. Eu não quero precisar de nada.

E depois de tudo as pessoas tentam juntar os cacos só porque elas estão se sentindo mal com elas mesmas, não com o que causaram. Aí não adianta. Não adianta dar uma facada e ai, desculpe, não sabia que ia sangrar tanto. Uma bela de uma bosta, um dia horroroso e é assim mesmo que vai ficar. Só o tempo arruma. O tempo é o meu melhor amigo. Às vezes nem ele arruma. Mas pelo menos a gente aprende. Boa sorte com o tempo, darling.

Clarah Averbuck

14:37 +


sexta-feira, setembro 29, 2006

Stupid jerk

Ele não precisaria ter sido tão idiota. Que ele era idiota ela já sabia, mas não precisava ter provado. A gente sabe que algumas pessoas são idiotas, mas se contenta e fica feliz quando elas não escancaram sua idiotice. Eu sei que você é idiota, mas você não precisava ter mostrado ela assim, completamente nua. Por que a gente sabe que algumas pessoas são idiotas, mas ficamos brincando de fazer-de-conta que talvez elas não sejam tão idiotas assim. E o pior é quando temos carinho por pessoas idiotas. E normalmente os sentimentos bons sempre sobrepujam os sentimentos maus, e daí a gente acaba dando mais ouvido pro carinho do que pra idiotice. E isso também é ser idiota. É ser idiota fingir que uma pessoa não é idiota quando você sabe muito bem que ela é completamente idiota. E quanto mais idiota, mais raiva dá, porque no fundo você não queria que ela fosse idiota. Sempre tem uma esperançazinha-filha-duma-puta lá no fundo tentando esconder a idiotice alheia. E quanto mais a gente se cega pra idiotice dos idiotas, mais idiota a gente fica. E você é completamente idiota, junto comigo, que sou mais idiota ainda porque ainda não entendi que você é inteiramente idiota. E quanto mais você sair dançando por aí exibindo sua idiotice, mais idiota eu vou me sentir por ter tentado achar que você não era idiota. Mas eu sei que você é pura idiotice. Quanto mais raiva me dá da sua idiotice, mais idiota você se torna pra mim e mais idiota eu fico por perceber o tamanho da sua idiotice e não entender que é idiota. Eu tenho o costume de esfaquear a idiotice alheia. Não a minha. E, no fim, você é o mais idiota, porque escancara sua idiotice como uma puta abre as pernas em horário de trabalho. Eu não, só eu sei da minha idiotice. E você se fodeu. Idiota.

21:17 +


terça-feira, setembro 26, 2006

A Ideologia Alemã

Talvez o certo seja aplicar esse lance de materialismo histórico nos meus relacionamentos pessoais, fugindo da teoria hegeliana que só fica no plano das idéias. Iverter a idéia. Sufocar os idealistas.
Marx tem dado muito mais conta dos meus conflitos psicológicos-neuróticos-obssessivos do que o idiota do Freud e sua fucking teoria do complexo de Édipo.

E assim será o modo de produção da minha vidinha capitalista neo-liberal.

Companheiros,
"Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência".

00:42 +


sexta-feira, setembro 08, 2006

CAMASUTRA

HOMULHER
VIRGINOCÊNCIA
FOGOZO
ORALÍNGUA
PENATRAÇÃO
BOCAMISINHA
ORGIOGASMO

23:45 +


quinta-feira, junho 22, 2006

blah, blah, blah...

Eu não sei mais escrever. E isso é um fato, lastimável, mas é um fato. As palavras parecem sair correndo de mim, olhando pra trás e rindo da minha cara, igual criança que foge da mãe depois de fazer uma grande merda. E a panaca aqui fica pedindo pra elas voltarem, mas nada feito, elas correm em velocidade alucinante. Acho que preciso de férias intelectuais ou essa vida que eu vou levando não vai mais fazer o menor sentido.

Ou talvez o dia em que eu amar algum ser novamente - oh, céus! amor? que grandissíssima merda é essa, essa coisa de amor? -, o dia em que eu achar algum indivíduo que mereça o mínimo da minha atenção, talvez nesse dia eu consiga laçar algumas palavrinhas úteis para a minha sobreviência e juntá-las formando alguma coisa interessante.

Porque? Porque esse blog está datado, passou o prazo de validade.
Tudo o que foi dito antes deverá ser esquecido.
As linhas abaixo dizem respeito a uma Luísa que não existe mais.
Uma Luísa que hoje corre atrás de palavrinhas para construir uma nova mulher.

20:16 +


terça-feira, junho 06, 2006

Além da cidade dos sonhos

E elas se encontraram entre tantos sujeitos indeterminados - indeterminados assim como elas. Indeterminadas. E só elas sabem cumprir a determinação do sujeito Silêncio, pois suas palavras são situações infaláveis, um não-sei-o-que-e-nem-quero-saber.

A distância que expande o Silêncio. O Silêncio que só quem grita consegue escutar. O Silêncio oco, o Silêncio perturbador, além das fronteiras. Pertubação. Perturba a ação. Separação. Se pára a ação.

A vida conspira, mas no fim das contas o Silêncio é nosso.

18:03 +

Qual é o sentido da vida pra você?
Encontrar sua cara-metade, trabalhar, constituir família e comprar um carro e uma casa própria?




Foda-se você.

00:26 +

Eu tenho alergia a tudo o que é para sempre nessa vida.

00:20 +


quarta-feira, maio 31, 2006

Para o meu pai

Sua primeira dor na alma foi ao sentir a dor de seu pai. Os malditos homens fardados o levaram embora de casa.
E foi ali que ele deu de cara com a injustiça - nua, crua, escancarada.
Dolorosa.
Que tocou fundo.
Então ele foi buscar a razão.
Então ele quis lutar.
E ele lutou.
Ele gritou.
Ele falou.
Ele bradou.
Ele protestou.
Não se calou.
Ele transou.
Ele amou.
Ele gerou.
Ele sorriu.
E nunca caiu.
Ele sempre segurou as pontas.
Porque ele é imponente.
Ele é forte.
Ele é homem.
Ele é homem, e ele chorou.
Como alguém que, mesmo parecendo distante da fragilidade, deforma sua face para fazer uma lágrima rolar.

amo-te

21:57 +


quinta-feira, maio 18, 2006

É uma sensação única, meus amigos.
De um jeito todo meu, eu entendo que a vida é a coisa mais legal que se tem para viver, por isso não deixo ela enferrujar e sigo num caminho que não sei onde vai dar, mas que eu sigo, eu sigo, independentemente se o carnaval chegar ou não. Podendo ser bailarina, valsista ou uma simples flor pisoteada do jardim, menina-garota-mulher vê um mundo torto, não nego, mas isso não dá moleza nas pernas. Tá tudo errado? Tá. Mas eu nunca quis ser perfeita e amor que acaba nunca foi amor de verdade eu li num livro uma vez, então acumulo forças pra me segurar quando ele chegar de verdade. Enquanto isso eu procuro ser uma concepcionista, porque eu não preciso ser uma pessoa agressiva com os outros só pra me auto-afirmar e me sentir alguém. Azar o seu. Parece que não vai dar tempo de viver, mas no fim tudo dá certo, mesmo que eu não consiga guardar pra sempre tudo aquilo que me faz feliz. E o mais gostoso ultimamente tem sido acordar.

20:06 +


terça-feira, abril 25, 2006

Foda-se sua mente
Foda-se se sente
Foda-se sua mão
Foda-se aquele colchão
Foda-se todo o seu contexto
Foda-se esse texto
Foda-se, não ligo
Foda-se comigo.

Escrito por uma parte do Silêncio

00:24 +


quarta-feira, abril 19, 2006

A verdade do sonho -parte 2 (04/04/2005 - 09/09/2005)

Ela não pensara que em uma noite chata de um domingo ela pudesse ter a oportunidade de virar minhoca. Não que fosse o maior desejo de sua vida, mas brincar dessa metamorfose abrangente seria algo que ela não recusaria. Então, de vestidinho verde, exibindo toda sua perna branca para a madrugada, pegou a bolsa e entrou dentro de uma caixa preta que vinha em sua direção. Só ela, o motorista da caixa preta e a amiga das oportunidades sabem o quanto aquilo tudo foi inusitado. Uma conversa ali, outra aqui, uma névoa distorcendo os corpos e foi quando de repente a caixa preta se transformou em um mundo à parte de todo o mundo que existe de verdade. Vontade de abrangências devastando o espírito, o motorista deu a poção para que ela tomasse e se transformasse em minhoca, mas no meio do caminho desistiu de brincar de alquimista. Minhoca meio humana, meio minhoca, começou a pensar na metafísica e na moral de toda a situação, mas como estava acompanhada pela amiga das oportunidades, nada retilíneo ela conseguia pensar, nada claro ela conseguia dizer. E seu pensamento não saía das abrangências… Foi quando ela e o motorista começaram uma divertida brincadeira de palavras, “eu digo”, “você diz”, “e agora?”, “sua vez”, “onde você está?”, “estou no tópico”, “como você foi parar aí?”, “foi você quem me levou”, “como eu te levei?”, “você me deu a mão”, “achei que eu estava falando quando eu te levei”…E então o tópico do jogo de palavras virou o tópico de um jogo de ações, em que ela se embebia na poção de minhoca, de forma delicada e calma, até que o motorista, mais uma vez, não quis ser alquimista. Tudo bem, pois passear de caixa preta na escuridão de um domingo foi gostoso, foi legal. E, já de volta, deitada em sua cama, as abrangências foram as donas de todo o resto de seu sonho.

Minhoca, somente sua.
Rainha da idade de pedra.

14:56 +


sexta-feira, março 24, 2006

Os olhos de fora

A verdade é que o mundo se encontra em um momento de colapso e parece que as pessoas ainda não perceberam. Ligar o motorzinho de processamento do cérebro exige força e determinação, então é mais simples ficar em frente de um computador brincando de ser alguém. Construindo personagens mil que são meros reflexos dos seus desejos, estes que são construídos por qualquer coisa, menos por você mesmo. Alguém deseja o meu desejo, mas por mais que meu desejo talvez não seja de propriedade minha, eu continuo desejando, achando que ele é todo, somente, puro desejo meu. Qual é seu desejo? O meu é tão grande que não dá pra definir. É indefinível, mas meu desejo está na camiseta de uma garotinha doce e ingênua, que vende flores sem se importar com a agressividade alheia. Ele está naquilo que chamamos perdão. Ele bate na porta de belas casas bem arquitetadas que escondem ervilhas em seu interior. Meu desejo é cinza e anda por aí implorando silenciosamente para que lhe dêem abrigo. Meu desejo é silencioso. E apesar de escondido, parece mergulhar em cada fresta que é deixada pelos outros desejos que circundam por aí.

16:02 +


terça-feira, fevereiro 14, 2006

É no balanço do vai e vem

Ah! Vamos esquecer de toda aquela pressão que o mundo faz sobre a nossa cabeça! Vamos sentar no bar, tomar algumas cervejas geladas e tratar de assuntos idiotas e imprescindíveis do mundo. Vamos gastar nossos neurônios em blá-blá-blás desnecessários, mas que tapeiam nossa angústia por alguns momentos. E então nós iremos rir, e você dirá que a parte que mais gosta em mim é o meu lado esquerdo e eu te direi que, não, eu odeio meu lado esquerdo. E a gente vai rir de novo, e eu vou falar que adoro suas sobrancelhas, você vai me perguntar porquê e eu vou dizer que é porque elas são ousadas. Daí você não entende nada, me chama de maluca e a gente continua rindo e tomando cerveja. E como os fins de noite são sugestivos, o caminho da sua casa é o mais curto e lá a gente abre a porta para os sentimentos mais naturais do ser humano, aproveitando toda nossa desinibição. Vamos gastar nossos hormônios em atividades prazerosas e que tapeiam nossa angústia por alguns momentos. Vamos cansar os corpos, dar espaço à sensibilidade e falar coisas sem sentido. E então a gente ri de novo, a gente dorme, a gente se abraça e você me diz que sou uma garota legal e eu te digo para esquecer todas aquelas baboseiras de antes e que assim está ótimo. Só nós dois. Daí, no dia seguinte eu sou eu e você é você, cada qual com sua manhã, cada qual com suas angústias, cada qual em seu caminho.

18:51 +


quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Life is a lie

Ai… Escrever dói. Escrever suga, escrever alivia. Dor aliviante. É como quando estamos com um roxo na perna e apertamos ele bem forte. E além disso é necessário, é vitalício. Eu me transformo em algo que posso não ser ou simplesmente transfigurar a vida que é realmente minha em palavras desajustadas que ninguém nunca irá entender. E um dia alguém se interessará, mas eu não estarei mais aqui para explicar. Palavras são palavras e elas nunca irão conseguir transmitir um sentimento, por que palavras são escrita, sentimentos são apenas sentimentos, sentimento se sente. Socorro!! Que palavras são essas?? Que sentimentos são esses? Dona Luísa já fui muito mais lúcida em sua vida. Segundo meu pai eu fiquei demente. Eu achava que demência não tinha cura, mas, então, pela primeira vez entrei em um daqueles consultórios em que você senta no divã e fala sobre sua vida para uma pessoa que você nem conhece e tudo parece ter tomado um rumo diferente. Voltei a ser a Luísa que eu nunca fui. Agora eu to aí, só tentando entender o porquê disso tudo ter acontecido. Esperando por outra pessoa que cause mais demência na minha vida. Por que, apesar de tudo, todo aquele caos que parecia não ter fim foi de grande necessidade. Agora eu aprendi a dizer: “ah, vida, como você é engraçada!”. E quanto mais eu chorar, mais engraçada ela será. Vida sem lágrimas não é vida. Seja a vida amarela, azul ou multicolor, mas que seja uma vida. Regada dos mais conflitantes fatos que a compõem, que a vida saia de dentro de casa. Que ela arrume suas malas e saia percorrendo o mundo, batendo de porta em porta, entrando por todos os vãos, encontrando todo o tipo de clima, todo o tipo de gente, todo o tipo de rostos, todo o tipo de amores. Sejam eles amores marinhos, sejam eles amores aéreos, mas que sejam amores. Sejam eles amores correspondidos, sejam eles amores solitários. Sejam eles amores eternos, sejam eles amores com prazo de validade, mas que sejam amores.

Oi, vida! Me chamo Luísa e estou pronta para chorar tudo outra vez.
Ah! Como és linda…

13:07 +

Além da realidade

É doença virtual, uma espécie de vírus. Nunca pensei que uma simples máquina aparentemente inofensiva, tivesse tamanho poder de influenciar as vidas de pobres cidadãos, perdidos no mundo tentando encontrar um sentido para toda aquela balbúrdia em que se encontram. A vida talvez fosse no mínimo um pouco mais interessante naqueles tempos antigos, em que a coisa a toda era vivida de verdade, ali, no cara a cara ou no olho no olho. Agora, não. O tempo brinca de corrida de São Silvestre enquanto pessoas constroem seus destinos em frente de uma tela de um computador. O Senhor Computador. É ele quem rege as almas que estão em busca de sabe-se-lá-o-que, da vida alheia, de uma alma gêmea, que seja… O rei dos novos tempos. Ele que tem a capacidade de destruir corações e amores, esperanças e mentiras. E todos estão lá, loucos, viciados. Doença psicológica do mundo moderno. Por ele podemos ser o que nossa fértil imaginação permitir, homem que vira mulher, fada que vira bruxa, menino doce que vira garoto amargurado, covardes que no simples tocar de umas teclas viram grandes valentões. Voyeurismo doentio, paranóico que parece ter virado combustível da vida. Passar um dia sem bisbilhotar o que acontece lá dentro é como acordar e não tomar café da manhã.

Falando como alguém de fora? Não sejamos hipócritas: eu, você, eles e aqueles outros, todos fazemos parte disso. Será algo intrínseco ao ser humano? A necessidade de se interessar por aquilo que não lhe diz respeito? Curiosidade aguçada. É um tanto quanto bizarro pensar que alguns de meus relacionamentos tenham sido desfeitos por meio da grande rede. É um tanto quanto bizarro pensar que eu possa ter uma gastrite aguda por ficar lendo e vendo coisas que não me agradam nesse mundo virtual. É mais bizarro ainda pensar que talvez eu possa passar minha não esperada velhice em cima de uma cadeira de rodas com problemas na coluna pelo simples fato de ter passado quase toda minha juventude em frente a uma dessas máquinas horrorosas. Esse mundo todo é como um camaleão, não decide qual cor quer vestir para seguir em frente.

No entanto, cá estou eu. Doente de doença moderna. Deixando todo esse bizarrismo me afetar. Mas que há eu de fazer? Chamar meus amigos para brincar de bola na rua, se eles estão enclausurados em suas casas doentes como eu em frente a um computador? Talvez eu deva jogar bola sozinha.

13:03 +


sexta-feira, janeiro 13, 2006

Apenas não diga que ama

Não quero esquecer do rosto. Rosto de menino-homem, cativante e eu não consigo não balançar… Ah, por favor, e aquele balanço todo? Foi tudo tão de faz-de-conta e o difícil é acreditar naquilo que olhos vêem. Não fuja rosto, o rosto na memória, não se vá e deixe-me ao menos lembrar daqueles momentos únicos que foram vividos com toda intensidade. Mas como já disse certa vez uma propaganda da Sprite, imagem não é nada e me dói saber o quanto eles todos estão sempre certos e eu fico brincando do jeito que minha cabeça quer que eu brinque. O rosto... tão bom ver o rosto e não quero nunca mais me esquecer dele. Foi uma cerveja, uma visão e eu tive que agradecer de certa forma. Agradecer? Vocês estão é brincando comigo! Aquele sorriso do rosto, do abraço, do balanço, que só me fizeram balançar também e encher a vida de laços rosas e de novo desataram todos os laços e ela ficou a ver navios. Homem gosta do que vê, mulher gosta do que ouve. E se disserem a ela que tudo foi ilusão de ótica, ela acredita, perdoa e ainda continua na beira da praia construindo seu castelinho de areia, até que alguém venha e o destrua mais uma vez, como ela já está cansada de saber. Ah, rosto maldito! Balanço maldito! E é incrível, pois apesar de tudo isso não consigo explicar a minha paz… Talvez por ter enxergado o rosto. O rosto que traz paz, o rosto do aconchego, o abraço inocente. Inocente para a luxuosa vida de Madame Bovary. Seu balanço desta noite está completamente errado e você não consegue se esconder por entre as árvores. Ela é o balanço certo, ela é um poço de sensibilidade, e por que você não enterra seus 20 anos 50 metros abaixo da terra? Deixe-os lá, mortos, pois já passaram há muito tempo e você se esqueceu de viver essa idade incrível. Quem é de verdade sabe quem é de mentira já me disseram certa vez e você não tem se olhado no espelho. Mas de que adiantam palavras vazias perdidas na madrugada, se enquanto tu te enganas, ela dorme para tapear a angústia que papilta no peito? Foi ela quem quis ir atrás de Rose. Terra para Rose. O sonho de Rose – foi lá que o rosto havia balançado pela última vez.

05:08 +


domingo, dezembro 18, 2005

Tudo o que é sólido desmancha no ar

Certa vez me disseram que a vida era dura.
Pra mim ela é mole.
Tão mole que se desintegra.

18:44 +


terça-feira, dezembro 13, 2005

Gramática

Meu mundo é composto por sujeitos indeterminados.

18:05 +


segunda-feira, dezembro 12, 2005

Mortas Somos Nada

Nós mulher exigimos dos homens algo que eles nunca vão poder nos dar.
Por que eles são óbvios. Todos os homens são óbvios. Uns mais desprovidos de sensibilidade do que outros, mas são todos óbvios.
Nós mulheres somos envoltas de mistério. A maioria. E não suportamos o óbvio.
É por isso que muitas vezes derrubamos lágrimas por esses seres óbvios.
Obviedade.

A vida é mais bonita assim.
Sofrendo por não conseguir suportar o óbvio.

15:16 +


sexta-feira, dezembro 02, 2005

Um adeus ao que foi

Eu nasci assim. Esquisita desse meu jeito. Cada dia mais desse jeito que é meu jeito que é formado por outros diferentes jeitos. Quando eu era criança escrevia jeito com ge. Geito gostoso de ser criança. E desde criança eu tenho esse jeito. Desde sempre fui assim, esquisita desse meu jeito, antes com ge e agora com jota.

Eles nasceram assim. Esquisitos desse gejeito de vocês. Um é esquisito desse geito com ge e outro esquisito desse jeito com jota. A criança que ainda existe em vocês escrevia jeito ou geito?

Cansei desse seu geito. Cansei mesmo. Muito.
Agora só gosto do seu jeito. Seu jeito. Seu jeitinho todo, todo jeitinho com jota.

Juntando nossos jeitos.
A gente se ajeita.

14:22 +


sábado, novembro 26, 2005

Foi a mamãe, que eu sei.

“A cada mil lágrimas, sai um milagre” – Alice Ruiz

Do dia para a noite ele pareceu ter reunido todas as forças possíveis e tomado coragem para ir embora. Estava lá já havia tanto tempo, que não fazia mais sentido permanecer. Nada nessa vida permanece e não seria ele que tentaria ir contra a ordem natural das coisas. Então ele foi. Foi, foi, foi e está lá, indo, indo, indo. Menina-mulher ainda enxerga, mas tão pequeno, tão fraco, tão apagado… Ela nunca pensara que ele poderia morrer, mas consegue sentir que ele dá seus últimos suspiros.

Tudo isso depois de mil lágrimas durante a tarde e sorrisos durante a noite. Foi como se a alegria tivesse surgido como um presente dentro de uma caixinha enfeitada com laço rosa e feito todo o passado virar bobagem. Bobagens de primeiro amor. Tchau passado, você não me importuna mais.

Dentro da caixinha veio um balanço. Eles eram estranhos e balançaram ao som de vozes embriagadas. Gostaram daquilo e balançaram mais e a cabeça da menina-mulher ficou tão confusa que ela preferiu não pensar mais. Só queria sentir. E sentiu. De uma forma, de duas, de várias e de repente, não mais que de repente, vieram buscar o balanço com quem ela se divertia. Só deixaram a caixinha. E o laço rosa. Que ela amarrou no coração e saiu andando decidida a enfrentar a louca jornada da vida.

Virou pó.

15:33 +


quinta-feira, novembro 03, 2005

Infarto

É um momento único assistir o coração se esvaziar de todo o amor que o fazia pulsar.

De tanto apanhar, ele parou de bater.
Por você.

23:47 +


terça-feira, outubro 25, 2005

Modernos Primitivos

Todo ser humano tem seu tanto de loucura, cada um é louco à sua maneira e não sei porque as pessoas ainda se importam se o seu semelhante é diferente. Porque as pessoas se assustam com o diferente. O garoto tem implantes de teflon por baixo da pele, se suspende por ganchos e cortou sua língua ao meio, tudo pela estética. E a dondoca de classe média que deseja se enquadrar aos padrões impostos, andar no carro do ano e freqüentar a balada mais irada da noite, olha para o moderno primitivo achando tudo aquilo um horror, loucura, “meu deus, ele deve ser internado”. Ela acha aquele garoto inteiro bizarro e doente, pensa na mãe do jovem, “coitada”, mas em sua alienação de viver no mundo material-padronizado-quero-ser-diferente-como-todo-mundo, se esqueceu dos tantos mililitros de silicone que ela tem no peito, do botox que mais faz com que pareça um sapo e dos milhões que gastou em plásticas e lipoaspirações para tentar parecer a Sheila Mello. Isso sim é normal. É normal querer ser igual a todas as popozudas da televisão, é normal se entupir de remédio pra emagrecer, é normal gastar todo seu salário em roupas no shopping que ela nunca vai usar. É normal. Um piercing sim é coisa de gente louca. Tatuagem é coisa da marginália. Cortar a pele com bisturi? Doença. Estética, queridos, estética. A diferença é que nem todo mundo deseja parecer um ET-Glória Menezes. Coitados dos modernos primitivos.
- O que Freud acha disso?
- Freud adorava se suspender por ganchos e sua língua cortada ao meio era seu maior motivo de orgulho.

Alguns jornalistas deveriam desistir da profissão não por incompetência técnica, mas pela falta de neurônios mesmo.

15:55 +


segunda-feira, outubro 17, 2005

Quando ela se acostumar com a idéia de que virar minhoca afasta toda irreversibilidade, aí sim, a Flor fará de seus espinhos sua arma.

18:01 +


terça-feira, outubro 11, 2005

Jello Biafra viu toda aquela cena horrenda

Ela não estava lá quando os laços foram selados. Laços para sempre? Laços rosas, um amor muito do esquisito. Onde você aprendeu a amar assim? O amor devastador, amando a si mesmo, até o ponto em que explode. Um amor que suga energia e você se torna uma espécie de pára-raio, que dá choque. Eu ainda gostaria de entender esse teatro e suas personagens realeza-em-exílio e é como se todos estivessem no inferno de Dante. Porque de certa forma, nenhum deles se sente em paz. Tá lá, ela sabe que está lá, eu sei que está lá, alguma coisa sempre estará lá e nem toda a nossa dedicação poderá acabar com o que já foi escrito e depredado. Quando tudo o que podia ser foi amontoado e jogado no lixo. Quando tudo o que foi, o cheiro, as coisas, os pernilongos e prazeres da vida foram enxotados de dentro daquele quarto que abrigava todas as contradições, para dar espaço à vida limpa, a um futuro que ela teme que seja para sempre. Nunca e sempre nunca deixarão de ser sempre nunca e sempre e ela se pergunta como pôde deixar se enganar por um sorriso. Ela tinha certeza de que havia olhado nos fundos dos olhos do homem realeza, mas eu duvido disso. Ela olhou, mas quem está cego não enxerga. Foi o caso. Essa brincadeira de viver soa tão bonito no futuro, assim como nos livros. Eu sinto falta da minha sensibilidade. Enquanto a única coisa em que ela pensa é: seria ela Florentino Ariza? Eu não teria a menor paciência para ter uma vida como a dele, mas ela parece querer viver assim... O problema é que a gente não escolhe o que colhe, mas colhe o que planta.

Uma ri, a outra chora.
Uma sonha, a outra vive.
Uma sente a energia orgasmática, a outra a opressão dos novos tempos.
Uma conquista com o sorriso, a outra espanta com a lágrima.
Uma dança a dança do frenético, a outra dança ao ritmo da melancolia.
Uma voa, a outra cai como uma pedra dura.
Uma só ganha, a outra só perde.
Uma explode em alegria, a outra implode na amargura de si mesma.

Ela não quer um HQND. Parece fútil e idiota, mas ela não quer. Simplesmente não quer.

11:13 +


sábado, outubro 08, 2005

Então ela venceu à moda russa.

19:43 +


sábado, setembro 24, 2005

Divagações de um verme-pós-análise

O que acontece: propensão ao desenvolvimento de TOC. É. Cuidado com o lado esquerdo. Ele às vezes dói, ele incomoda... É melhor cuidar disso, porque um dia o diagnóstico pode ser TOC, apesar de eu detestar termilogias. Cuide do seu TOC e da sua levofobia para que você não fique louca. Atenção, atenção! Na próxima consulta! Vamos tratar nossas loucuras!

E essa agressividade rara? Cadeira de mamãe, escultura e abajur quebrados. Jogados ao chão com toda a força. Você também precisa tratar isso. Bater nas pessoas. Ataque histérico. Histeria é nome de doença. Pobre Luísa, levofóbica, propensa a ter TOC e com ataques de histeria. É melhor não se drogar, é sua personalidade, tudo ou nada e você pode não voltar mais. Ficar em segundo ou terceiro plano pra sempre ou tomar comprimidos pra curar sua psicose. Não, psicótico é você! Psicopata é você! Aliás, você pode ser eu amanhã. Nossa, como somos parecidos! A gente realmente é muito parecido. E se eu ficar igual a você? Aposto que seu nível de testosterona é elevado. Certeza. Boxe e Muay Thai são as provas da minha testosterona.

Vamos defender o slogan “Drogas, bah!”, porque o caminho do ácido pode ser viagem sem volta e isso faz parte da sua personalidade. Você é um extremo. Pessoas extremadas têm mais chance de desenvolver TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO. Só porque eu conto degraus, uso garfo e faca do mesmo par, atendo ao telefone na segunda chamada, não gosto do lado esquerdo. São pessoas imaginativas e você não precisa de alucinógenos para expandir sua consciência. Leia! O que falta é você é a leitura, sua verma de cabeça limitada! Ler, viajar e sair dessa cidade fétida. Mamãe, quero ser punk.

É melhor não se drogar. Fique longe de alucinógenos, pois eles podem te levar daqui pra nunca mais voltar. Parabéns, Minhoca, você é uma farsa, assim como a pessoa que você amou. Uma farsa. Pra que fugir do que você realmente é? Assuma sua podridão perante o mundo, não tenha vergonha! Eles são tão podres quanto você! Ficam brincando de “mamãe-quero-ser-punk” enquanto não descobrem o que vieram fazer nesse mundo podre.

Eles querem desarmar pra acabar com a violência, mas os cursos de publicidade continuam se multiplicando e fabricando marionetes para manter o sistema, que farão belas propagandas de cigarro e venderão modernos estilos de vida na televisão e então todos irão morrer de câncer. De anorexia. De depressão. De todas as doenças do mundo moderno. E vão morrer de fome, de insônia. Ou você acredita no Fome Zero? De Transtorno Bipolar e Transtorno Obsessivo Compulsivo. Ninguém faz plebiscito pra saber se a população quer uma reforma política, a discirminação da eutanásia, a liberação das células tronco ou a legalização do aborto. Todo dia morrem mulheres que praticam o aborto ilegalmente, se jogando da escada ou enfiando uma agulha de tricô suja na xana. É, na xana.

Eles querem desarmar e a polícia vai matar cada vez mais. E eles não vão pra cadeia quando assassinam, assim como aqueles que mentem a pessoas apaixonadas, perdidas, iludidas e indefesas também não vão. Deveriam ser condenados por atentado à moral. Desrespeito sentimental também deveria ser crime, o número de maníacos-depressivos cairia pela metade. E antes que eu fique louca ou quebre alguém na rua, é melhor não chegar perto das drogas e ler tudo quanto é livro. Nunca mais vou amar como eu amei. Você levou toda minha inocência, colocou num saco, jogou na privada e deu descarga. DESCARGA. Assim como eu deveria ter feito com a sua cabeça.

18:43 +


sábado, setembro 17, 2005

Má educação

No mundo da fragmentação, da chuva de emoções baratas, sentimentos produzidos por poderosos agentes da comunicação, garota/mulher que vê abrir à sua frente um leque de possibilidades. O problema é a incerteza do amanhã e a efemeridade do hoje. Porque o mundo precisa manter seu fluxo alienante em constante atividade, para que não entre em colapso profundo.

O importante não é estar junto. O importante é estar conectado. Estou te vendo pela tela do computador, sei que você está ali, mas não é preciso nem que você se manifeste, sua conectividade com o mundo virtual é sua conectividade com a síndrome da solidão. A síndrome da solidão. Ele não ama, mas jura amar, assim como ela, que confunde carência com o sentimento mais puro que existe. Se afundando no mar de ilusões. Um dia todos irão chorar e se arrepender pelas facas lançadas a seres inocentes, ou talvez não. Talvez achem que seus comportamentos medíocres tenham sido o melhor a ser feito.

Mediocridade confundida com felicidade. Está ausente, mantenha-se assim e não exponha ao mundo a sua hipocrisia, pois eu sinto vergonha alheia. Quando grita ao mundo todo seu descontentamento, se esquece de que há ainda uns poucos seres que o escutam e acreditam em suas palavras. Discursos e ações nasceram para andarem de mãos dadas. Suas palavras parecem estar sendo levadas pelo vento e sua força parece mínima para que elas não escapem. Força? Não há força, apenas a luta por uma imagem a ser construída e uma reputação a ser mantida. Porque é tão bonito ser aquilo que não se é… Porque é tão fácil hastear a bandeira ao fim do mastro e em sua base mostrar o dedo do meio… Porque é simples mandar o mundo à merda e colocar-se dentro de casa, concentrando-se em um mundo fugidio e esquecendo-se de que há lá fora um mundo que necessita de dignidade.

Porque dignidade é luta.

22:33 +

O menino que você amou é o homem que você teme

E então ele ajoelhou-se e rezou para que sua vida tivesse sido somente um sonho.

Reze, monstro! Reze para que sua vida tenha sido somente um sonho. Somente um pesadelo. O pesadelo da realidade.

Reze, garoto! Reze, homem! Reze, monstro! Porque nem todas as drogas desse mundo vão te salvar de você mesmo.

12:45 +

Acorrentado

O corpo
Meu, meu corpo.
A dor
As minhas, as minhas dores
A vida
As vidas, as minhas vidas
E eles arregalam os olhos, estendem as mãos e querem tocar meu corpo, e querem comandar minha dor e querem controlar as minhas vidas, uma que é vida e outra que um dia poderá vir a ser.
Eu sou tudo o que tenho e eles querem me roubar de mim.
Aborte o moralismo.
O aborto é um direito meu.
Tire as mãos de mim.

12:42 +

Super, hiper, pós...

Uma vida fútil se resume a seguir a lógica da moda.

O indivíduo flexível e efêmero, que não tem forças para se apegar a concreticidades.
O tempo passa de maneira invisível, trazendo para o mundo toda sua volatilidade, incrustrando nos seres humanos o festival de emoções baratas. São incontáveis "eu te amo", mas raros os verdadeiros. Vivendo como se não existisse o amanhã, somos todos vítimas do mundo-liquidificador, somos todos papas, somos o vômito do mundo.

Viver a individualidade egoísta e hedonista parece ser a maneira menos dolorosa de assistir ao espetáculo da hipermodernidade. Eu. Eles. Elas. Você também é parte disso.

12:32 +


sexta-feira, setembro 09, 2005

Imagem não é nada.
Meu cérebro funciona.
Alguns já foderam faz tempo.
Se tudo acontece é porque tem que acontecer e alguém varreu meu chão.
Enquanto isso uma criança brinca de faz-de-conta, vivendo na hipocrisia do seu ser.
Parecia tão difícil encontrar o ponto, mas ele estava ali, escondido mas estava. Procurei, procurei e achei. Agora coloco ele no lugar, mas às vezes ele escapa. Ponto esperto, ponto safado, mas eu sei que no final ele ficará onde eu quero.
Oi ponto, sou a Verme, vou te deixar aqui e seguir em frente. Mas saiba que nunca me esquecerei de você.
Oh yeah, baby.

You don't care about how I feel
I don't feel it anymore
Atwa - SOAD

Estou aqui pra ficar.

22:00 +

A verdade do sonho
(Ler postagem do dia 4/04/2005)

Lembra-se de Rosa?
A jovem e frágil Rosa?
Está inteira. Uma linda Flor,
Rosa.
Além de chocolates, ela quer o mundo.
Quer o mundo porque não chora mais.
Quer o mundo, mas não tem culpa se alguém chorar.
Quer o mundo porque não se importa mais com o que vai pensar ou sentir.
Quer o mundo porque sua palavra é verdade.
Não foi na balada, muito menos em um auditório frio. Era calor e uma música embalava os corpos e mentes famintos por desejo. Juntos naquele lugar pequeno e aconchegante.
Um beijo roubado.
E devolvido.
Beijos, carícias e tudo o que o corpo permitiu.
Rosa não sente medo.
A jovem e forte Rosa.
Forte. Está inteira.
Pronta para desabrochar.

Adoro ser Minhoca.
Sua Minhoca.

21:42 +

Fragmentos

Eu me perdi.
Mas encontrei todas as outras coisas.
Eu te perdi.
Mas depois acabei por me encontrar.
E todas as outras coisas eu já havia achado.
Quando se perde muito se ganha.
Eu me perdi.
E na bagunça de mim mesma encontrei todas as outras coisas.
Eu te perdi.
E na sua bagunça acabei por me encontrar.
Oi.
Meu coração sorri.

Alguns vermes, depois de rastejarem, também criam asas.
Alguns vermes voam pelos ares.
E um dia eles irão tão alto que existirão somente na lembrança de uma criança carente solitária.

Sou Flor.
Que não se cheire no mundo de mentira.
Mas que exala o mais puro perfume quando tocada com delicadeza.
Sou Flor.
Não sou Flor. Que se cheire.
Flor maldosa, que ri da desgraça alheia.
Sou Flor. E não santa.

Sou Flor. Sou Verme.
Feliz em minha própria contradição.

"O que não me mata vem pra me fortalecer" - União Racial

21:17 +


sábado, agosto 27, 2005

Capetali$mo Dementira

De olhos fechados você segue sua vida
Sem saber para onde está indo
Você luta contra um mundo que você mesmo perpetua
Me diga agora, você é feliz?
Me diga agora, sua falsidade te faz feliz?
Na hipocrisia do seu ser você se acaba
Até quando vai mentir para si mesmo?
Até quando vai fugir de si mesmo?
Sua cabeça está fodida e só você não percebeu
Só você não acredita
Tudo o que ele toca ele destrói

11:56 +


segunda-feira, agosto 22, 2005

Save yourself from this

Oi.
Sou Luísa. Às vezes Worm, às vezes Uórmi, às vezes Uó, às vezes Lu, às vezes Minhoca, às vezes um monte de coisas.
E essa noite eu não dormi.
Oi.
Porque você veio me ver nesta madrugada? Eu já estava dormindo e você fez o favor de entrar no meu quarto. Mas que saco! Não percebe que sua presença não é bem-vinda? Porra! Tantos planos, tantos objetivos, tantas Luísas em construção se perdendo na bagunça de si mesma. Uma alma boa, maldade, maldade e bondade se intercalando na angústia daquilo que foi construído e depois depredado. Depredar parece ser sua melhor façanha. Menina teimosa, tão menina e tão mulher.
Oi.
Eu trabalho, tenho salário, amigos, família, faculdade, fanzine, banda em andamento e uns homens que me querem bem. Também quero o bem deles, mas longe de mim. Não, obrigada, um beijo, tchau, estou bem sozinha. Bastante bem, diga-se de passagem.
Oi.
Menino malvado que me deixa melhor do que minha terapeuta. Ah, como você me faz bem. Adoro passar horas dedicada ao meu menino malvado, porque ele é malvado mesmo, mesmo, mesmo! Mas ele é um doce de criatura, apesar de não saber nada sobre mim. Também não interessa saber sobre mim. Mim ser mim because of you.
Oi.
São tantas coisas, tantas informações, que eu me sinto mais fragmentada do que eu já sou nessa porra de sistema em que eu vivo, nessa porra de cidade suja em que eu moro, nessas merdas de ônibus xexelentos em que eu ando. Tenho medo de pegar piolho, pulga e micose. Sim, porque é possível pegar essas coisas nos ônibus. Na estação de trem os ratos ficam passando o tempo todo. Parece uma cidade de ratos. Existem cerca de cinco ratos para cada indivíduo na cidade de São Paulo. Não queria pensar no número de baratas.
Tchau.
Preciso trabalhar para encher o cu do patrão de dinheiro.
Assim é feita a vida.

Nem todas as drogas do mundo vão te salvar de você mesmo.

11:04 +


quinta-feira, junho 23, 2005

O Pesadelo da Realidade

Ele casou-se. Teve um, dois e o terceiro filho morreu afogado em seu próprio vômito. Sua mulher, que já tinha depressão pós-parto, enlouqueceu e o que aconteceu foi uma tragédia. A moça esqueceu, ou fingiu esquecer de seus remédios vitalícios, caminhou até a esquina de sua casa e meteu um tiro na cabeça, enquanto ele estava na sacada de sua casa fumando um cigarro e pensando em seu filho que havia morrido afogado.
Doze anos depois, ele vive para e com os livros e não quer saber nem de tomar uma cerveja.

“Luísa, a vida da gente tem dessas coisas”.

00:01 +


quarta-feira, junho 01, 2005

Linhas Aéreas - o destino da Flor

O silêncio muitas vezes é cumplicidade e eu não gosto de ser cúmplice daquilo que eu acho errado. Mas eu dei minha palavra, falei: “pode confiar”. Agora ele confia e eu serei para todo o sempre vítima dessa promessa suja. O coração não quer mais bombear a vida, quer explodir em mil pequeninos pedaços e sair voando pela superfície terrestre levando aquilo que ele tem de melhor para a sofrida humanidade.
Se ele explodir, chegará até às fronteiras, indo buscar-te onde você estiver. Onde você estiver lá estarei eu, seja da forma como for. Já foi, eu já fui, tu já eras e nós seremos. Seremos aquilo que um dia não existiu e foi sonho, o sonho que se metamorfoseou em realidade.
Vamos voltar ao Aeroporto e de lá, ao invés de nos dirigirmos a nossas casas, vamos pegar o avião que nos levará longe de tudo isso que destruiu o que não existia.

11:50 +


quarta-feira, maio 25, 2005

No Aeroporto

Era tudo mentira e Michelle gritava loucamente para aquela homem esquisito que mais parecia um zumbi, enquanto os dois faziam sexo matando a saudade sufocada no peito e nas armas. Michelle amava tanto aquele monstro, faria qualquer coisa por ele e disse-lhe o quanto o seu amor era eterno. Eperaria por ele até o fim dos tempos e então ganhou um beijo melado e começou a gritar que odiava demais o monstro. A saudade recolhida no peito, a angústia, uma luz baixa, tudo muito calmo e Michelle falando de amor. O outro Homem com a culpa esculpida na testa e a outra garota se identificando com Michelle e também querendo falar de amor. Mas as palavras não saíam.

Aquilo tudo tinha que ter acontecido, porque nada acontece por acaso. A Flor, o Homem, Michelle e o zumbi. Que quarteto incrível!! Será que o Homem não percebe? Quantos conflitos, quantos sentimentos verdadeiros, quanta mágoa! Quanta mágoa...
O Homem nada falou.
O zumbi sofria, coitado...
Michelle e a garota hão de se encontrar por aí nos caminhos dessa vida louca.

O Homem mudo.
A garota pedindo socorro.
Então as luzes se apagam, eles saem de mãos dadas como antes e talvez tenha sido o final do teatro sem fim. Sem continuação.
Triste fim.

Era tudo mentira?
Aquilo tudo tinha que ter acontecido?

Castelos desabando ao chão.
Mais uma vez.

10:45 +


domingo, maio 08, 2005

Comunicação

Sentindo falta da adjetivação necessária para a compreensão imaterial.
O mundo de maneira pictórica, sem perspectiva de diferenciação da objetividade.
Um movimento ora calmo, ora conturbado.
Eu quero meu cacto pictórico.
A fala o vento leva. Mas gera efeitos. Catastróficos.
Eu não esqueci uma voz saída de seus dedos.
Eu não esqueci o toque saído da sua boca.
Eu não esqueci a visão saída da sua mente.

Preciso sair do mundo que vai até meio metro de distância.
Manter todos os minutos carregadamente ocupados para não pensar na redonda contradição do mundo, para não se olhar no espelho.

Aquele pacote de bolachas era como droguinha para a cura da ansiedade, e mastigar um canudo que seja é uma forma de tentar expelir o mostro Ansiedade que habita alguns tristes e transtornados seres humanos. Assim como pegar uma caneta e sair escrevendo tudo aquilo que vem à cabeça e que num primeiro momento possa não fazer o menor sentido.

Um homem-leão concentrado em seu mundo. Seu fantástico mundo.
Uma guerreira, em forma de luz, guerreando por vários mundos.
E a possibilidade de unir todos os mundos em um só.

A hipocrisia humana. A tentativa de não deixar desestruturar a moral, os bons costumes, as aparências. Falar não é uma arte. Falar é uma responsabilidade. Agir é um fato.

23:57 +


quarta-feira, abril 27, 2005

A sensação do desconforto

Um mundo frenético, em que o espaço e o tempo são relativos. O que antes parecia longínquo e inalcançável agora suscetível ao toque de nossas mãos. Não sei o nome do meu vizinho e ao menos sei quem ele é, seu rosto pode ser como o de qualquer transeunte das grandes cidades, se confundindo por entre os passantes apressados. Você já parou para pensar na distância que há entre você e o homem que está sentado ao seu lado no ônibus? O individualismo do sistema irracional que não permite o desenvolvimento da percepção em relação ao mundo além do umbigo. Um mundo superficial. A perda dos valores humanos. Passos iguais, movimentos mecânicos, a padronização humana. Quando todos somos produtos, quando todos somos marionetes do fabuloso espetáculo da modernidade, quando tudo o que poderia ser emancipador é englobado pela gulosa ameba das técnicas. É apavorante ter consciência de que fazemos parte de uma auto-destruição. Seria o fim das utopias, seria o fim da história e não há porquê lutar. Esse seria o discurso do malvado monstro que determina nossas vidas, para que sintamos a incapacidade na sua forma mais plena. Discurso forte, discurso lógico. Mas ele se esqueceu de que discursos racionais não têm a força da sensibilidade humana. Discursos não sobrevivem à explosão de dinamites.

12:21 +


segunda-feira, abril 25, 2005

A maldade de uma criança perdida

Em um lugar distante, o tempo muito mais distante. O tempo que passa, o tempo que cura, o tempo que muda o olhar, o tempo que faz rir das coisas passadas. E é tão bom rir do que foi desgraça. O olhar daquele garoto, que nunca transmitiu respeito, mas de certa forma transmitia carinho e hoje não transmite mais nada.
A indiferença é o pior castigo e não importa o que dizem, não importa o que fazem, seus dedos sujos nunca mais me tocarão. Nunca mais.
Porque agora eu sou dinamite.
Porque eu sou mais verdadeira do que sua pose de bom-moço.
Porque eu sou mais forte do que sua arte de manipulação.
E toda essa desgraça voará pelos ares, na mesma hora em que eu explodir.

Lá no alto do morro

Foi a coisa mais feia que eu já vi.
Mentiras são feias por si só.
Mentiras em lugar sagrado são um crime.
Vocês são criminosos.
Deveriam ser presos e torturados, até confessarem seus pecados revestidos de fraqueza.

12:30 +


sábado, abril 23, 2005

Já que você foi embora, porque não desaparece?

13:48 +


sexta-feira, abril 15, 2005

Viva La Revolución

O que posso fazer para mudar, o que posso mexer para movimentar e talvez se eu fosse dona do mundo dançaria como Chaplin. Eu não passo de uma pseudo-esquizofrênica que espera o dia do nunca chegar, que espera viver um dia nesse mundo de rebeldia.
Eu só queria fazer parte do mundo bizarro não compreendido por ninguém por mais que isso significasse uma dor constante.

A tecnologia me englobou, como se fosse uma ameba

00:24 +


terça-feira, abril 12, 2005

Redondas contradições

O mundo é todo torto.
Pau que nasce torto nunca se endireita.
O mundo nunca vai se endireitar.

12:08 +

Um passeio de metrô

Uma gorda comendo uma pêra, descontando todos os seus duzentos quilos de frustração a cada mordida ansiosa, olhando com olhares preconceituosos aqueles três garotinhos modernos e gays, que na realidade mal sabem o que é que estão fazendo e para onde vão, só pensam em ser gays e fazer baladas e orgias no Atari, enquanto uma garota brinca com o zíper de sua mochila, porque não há nada melhor para fazer para aliviar sua ansiedade e sua tristeza.
T-R-I-S-T-E-Z-A.
Pobre garota, que já não é mais garota há tempos.
Pobre garota.
Ela ali, brincando com o zíper, e é possível fazer uma hipótese do que aconteceu na vida dela, só de olhar para os seus olhos grandes e enigmáticos, que jorram tristeza na mesma proporção do tamanho deles mesmos. E seus olhos estão tão perdidos… talvez por estarem procurando, procurando, procurando sem encontrar, e quanto menos se encontra, mais se procura. Assim mesmo, nessa lógica.
A garota de olhos tristes, porém fortes, conta através deles que está à procura de uma certa alma que deixou por aí. Não sabe onde deixou, nem quando e como pôde deixar escapar de suas mãos. Ela cuidou com tanto zelo, deu tanto amor e carinho, tentou segurar com toda a sua força. Talvez não suficiente, porque aquela alma era muito forte, muito rebelde e não gostava que segurassem suas mãos assim, com muita força.
Foi por isso.
Foi por isso que alma saiu correndo quando todos estavam dormindo. Saiu correndo, mas disse que voltava. E a pequena garota saiu à procura da alma.
Que não mais voltou.
Que não mais foi vista.
Que talvez exista apenas nas lembranças de um verão daquela pobre garota.
E quando o inverno começar, seus olhos ficarão mais tristes ainda e o zíper da sua mochila se tornará seu melhor amigo nas noites de domingo de volta para casa.

00:49 +


segunda-feira, abril 11, 2005

Orgasmo com meu amigo

Em frente ao computador, eu e meu amigo.
Em frente à televisão, eu e meu amigo.
No inverno, eu e meu amigo.
Depois do almoço, eu e meu amigo.
Na solidão do domingo à noite, eu e meu amigo.
Na depressão, eu e meu amigo.
Na ansiedade, eu e meu amigo.
Na falta do que fazer, eu e meu amigo.
Amigo para todas as horas.
Amigo que me dá prazer.
Amigos para sempre.
Eu e meu amigo.
Eu e meu amigo chocolate

22:48 +


sábado, abril 09, 2005

Um meio termo

Ela estava triste, então comprou uma saia.

No capitalismo é assim: quando estamos tristes compramos alguma coisa.
Para aliviar a alma.
Somos condicionados a depender do consumo para aliviar a alma.

E ela comprou uma saia. Bem curtinha.
Daquele jeito que mostra a coxa todinha. Coxa? Que coxa? Ela não tem nada de coxa! Suas pernas são tão magrinhas... Mas enfim, ela gosta de mostrar suas coxas magrinhas, por isso comprou uma saia bem curtinha.
Ela não acha indecência.
Se acha mais bonita de saia bem curtinha.

Porque ela é radical.
Ele disse que ela estava radicalizando e ela disse: “você só pensa em você, é um egocêntrico”.
Ela comprou a saia bem curtinha para aliviar a alma. E pensou: “me deixe com minha saia bem curtinha, me deixe ser radical, eu não gosto de meio termos”.

19:33 +


quinta-feira, abril 07, 2005

O que é conveniente

Às vezes eu tenho nojo de gente. Tenho nojo, assim, de não querer olhar na cara de ninguém, um desprezo, uma atitude altamente prepotente. Eu tenho. Mas depois passa e eu quero ser amiga das pessoas e descobrir o lado legal delas. Se é que elas têm.
Eu tenho um nojo assim, da sua falsidade, do seu sorriso amarelo, do seu interesse dissimulado. Eu tenho nojo de pessoas dissimuladas. Dessas eu tenho nojo sempre, como tenho nojo de pessoas mentirosas sempre. Às vezes as pessoas fedem. Fedem assim, de verdade, você chega perto delas e elas exalam cheiro ruim, mas que na verdade não tem cheiro. Ser dissimulada deve fazer mal à mente. Mente. Gente dissimulada mente.
Vômito pra você.

O que importa pra você o que o meu namorado faz da vida? O que ele faz? É meu namorado. Eu tenho vontade de vomitar em pessoas que perguntam esse tipo de coisa: o que o seu namorado faz? Eu respondo: namora comigo. O que você espera? Que eu diga que ele é um cara com visão de futuro, bem sucedido, um cara altamente renomado, que pensa em casar comigo, constituir família, almoçar com meus pais aos domingos, levar as crianças para passear no Parque Ibirapuera, um cara que se sente feliz por ter o carro do ano, que conquistou com tantos anos de trabalho, exploração, opressão e humilhação e vive na ilusão burguesa de vida feliz? Não, esse nunca será meu namorado.

- E você, namora?
- Namoro.
- E o que ele faz?
- Como assim o que ele faz? Faz um monte de coisa.
- Não, eu digo, ele trabalha, estuda? O que ele faz?
- O que ele faz?
- É!
- Namora comigo.

Sua estúpida.
Vômito pra você.
Enfia dois dedos na tomada, pra ver se com um choque seu cérebro não passa a funcionar.
Estúpida.

23:49 +

Como um sistema opressor

Ele quer calar minha boca.
Ele não quer ouvir minha voz.
Ele quer fingir que eu não existo.
Você pode querer calar minha boca, mas não pode calar meus pensamentos.
Minhas palavras te atingem, minha presença incomoda.
Eu tenho muito pra falar.
Eu tenho a quem incomodar.
Ele quer me matar.
Mas eu tenho vida.
Eu tenho mais vida do que a vida.
Eu tenho força.
A força que te faz ter medo.
E estou por aí,
andando,
falando,
pensando,
colando,
causando.

14:06 +


terça-feira, abril 05, 2005

Drink in their minds and smoke in the air...

Às vezes não fumar e não tomar cerveja pode ser um problema. É, um problema de caráter social.
O pensamento mais recorrente é: quem fuma e bebe tem problemas. Tem problemas no âmbito da saúde. Porque no social, não tem problema nenhum.

Não fumar e não beber se torna um problema quando estamos sozinhos. Sim, quando estamos sozinhos. Imagine só, você marcou de encontrar alguém em um bar. Mas esse alguém é daquele tipo de pessoa que funciona sempre com 30 minutos de atraso, então você vai ficar plantado ali esperando o alguém chegar por, no mínimo, 30 minutos. O que você faz, então? Levantar e ir embora? Não, a gente sempre acaba pensando: “ah, mais dez minutos e eu vou”. E vai de dez em dez até completarem os 30 minutos, ou até uma hora, ou até encher o saco e ir embora realmente. Nesse tempo o que você faz? Um fumante acende um cigarro. O que bebe pede uma cerveja. O que fuma e bebe cerveja faz os dois. E o que não faz nenhum? Fica sentado ali no balcão, olhando todo mundo, pede alguma coisa pra comer mesmo estando sem fome, uma água só pra fazer alguma coisa. Se no boteco tiver televisão e estiver passando o programa mais imbecil do dia, vai ficar ali, vendo televisão fingindo estar mais entretido do que nunca.

Ou quando você vai a um show sozinho em que não conhece ninguém. Daí você está lá na fila, não está afim de conversar com nenhum daqueles roqueiros idiotas e cabeludos que estão atrás de você (e na sua frente). Não fumar neste momento é um problema.

Ou na balada, quando você se perde de todas as suas amigas, ou quando cansou da balada e fala: “vou esperar vocês lá fora”. Esperar lá fora fazendo o quê? Lendo um livro? Não... ler um livro é demasiado legal, mas não de madrugada depois da balada, morrendo de sono. Se você fumasse, sentaria na calçada, encostaria na parede e acenderia um cigarro. Ou iria pro boteco da esquina e pediria uma brejinha enquanto espera suas amigas cansarem de dançar.

Fumar e beber são formas de entretenimento com você mesmo.

Antes eu tinha dó de ver alguém sentado no bar sozinho tomando alguma coisa. Sempre pensava: “ai, tadinho, ele não tem amigos, vou muito sentar ali pra conversar com ele”. Mas óbvio que isso não tem nada a ver. Quantas vezes não vi alguém sentado sozinho e de repente chega a namorada, ou uma galera, ou não chega ninguém, o cara paga a conta e vai embora.

Não beber e não fumar se torna um problema nas horas de tédio.

Eu não fumo. E não bebo sozinha porque eu não tomo nem uma latinha inteira sozinha. Nessas horas o que eu mais faço é pensar em alguma coisa que eu possa inventar para me entreter nas horas de tédio.

13:20 +


segunda-feira, abril 04, 2005

Se aquele sonho fosse verdade

Rosa.
A jovem e frágil Rosa.
Frágil. Ela quebra. Em mil pedaços.
Ela quebra e come chocolates. Brancos, pretos, ao leite, crocantes, com amêndoas ou recheio de licor.
Ela só quer chocolate.
Ela não quer mais ninguém além do seu amigo chocolate.
Ela não quer ninguém porque não consegue.
Não consegue porque tem medo.
Bloqueio.
Não quer ninguém porque não quer chorar de novo por alguém.
Não quer ninguém para não fazer ninguém chorar de novo por ela.
Não quer ninguém porque se importa com o que irá pensar e sentir.
Não quer ninguém porque não consegue mais trair.
Aquele passeio na balada fria, deitada em seu peito, um beijo roubado e foram juntos assistir àquela palestra, juntos naquele auditório grande vazio.
Um beijo roubado.
E devolvido.
Mas foram apenas beijos e carícias.
E Rosa tem medo.
Rosa.
A jovem e frágil Rosa.
Frágil. Ela quebra.
Em mil pedaços.

20:41 +


domingo, abril 03, 2005

Eu fui lá pra fazer acontecer. Eu fui, andei, suei, sorri e me diverti. Mas não fiz tudo acontecer. Só algumas coisas. Cola na mão é um barato, muito legal ficar arrancando pedacinhos de cola seca da mão, que se tudo tivesse seguido para outro caminho não estaria se sujando nos postes da cidade, estaria fazendo carinho no seu rosto. Mas eu vou aí, sujar o seu poste. Sujar minha mão no seu poste. E depois eu não vou querer lavar, vou deixar ela bem sujinha que é pra eu não esquecer da sujeira do seu poste.
Eu fui achando que iria sentir o cheiro de couro carente, eu fui achando que poderia começar a ensaiar para brincar de bailarina e no final ficar morta de cansaço. Morta de cansaço eu fiquei, mas não brinquei de bailarina.
Despedidas me fazem chorar. O fim me faz chorar. Chorar no fim de um livro, chorar no fim da novela, chorar no fim de um namoro, chorar no fim de uma banda, chorar no fim de uma viagem, chorar no fim de um filme, chorar no fim de um telefonema. Só não choro no fim de uma música. Se a música me faz chorar, é durante. Vai tocando, tocando, tocando no rádio, no seu corpo, e eu vou pensando, pensando, pensando e chorando e o sentimento de que existe uma mão invisível que apalpa meu coração forte, e ela vai apertando, apertando, como se fosse um botão que me fizesse chorar e as lágrimas vão saindo, saindo, uma a uma, duas juntas, três, até secar. As lágrimas, porque a mão continua apalpando, apalpando, apalpando, forever.
E a minha mão colando, colando, se sujando, se machucando.

04:12 +


quinta-feira, março 31, 2005

Para sempre Florentinas...

Procurar meu espaço na escuridão, porque os feixes de luz são apenas ilusão. Se minhas palavras tivessem lâminas, o mundo poderia ser diferente, porque com elas eu faria um talho na cara de cada um de vocês. Por vocês aceitarem viver na condição de mascarados, se escondendo por entre as sombras, brincando de faz-de-conta com aquilo que sentem, por julgarem que são donos das flores, quando na verdade as flores que choram são rosas espinhosas que poderiam matar vocês. O domínio é um manto preto que serve para cobrir a covardia de dois cactos que precisam de água. Água e flores.
Vocês não assustam o azul.
O peso dos coturnos.
Coturnos que pisam nas flores.

Uma atitude desnecessária em contraposição com outra desprezível.
Ele preferiu a desprezível e desprezou a desnecessária.

Seria o final um ultimato?
Vamos acabar com essa palhaçada.
Parece que quanto mais adultos, mais crianças.
E no dia que está por vir, entraremos no caos dançando e sorrindo, como flores que acabaram de desabrochar, irradiando satyricon pelo recinto. Perversas, malditas, perigosas e mafiosas.
E em um momento íntimo, vocês virarão o rosto e serão talhados na cara por nossas palavras.
Marcados para sempre.

12:02 +


quarta-feira, março 30, 2005

O Tsunami Psicológico

Tudo o que eu digo parece que soa como fumaça, que na hora incomoda, mas depois se dissipa no ar, tornando-se invisível, como se nunca tivesse existido. Falando para muros, paredes, baratas, estátuas... Eu me dobro, desdobro e redesdobro e fico de ponta cabeça esperando que alguma coisa que eu faça na vida possa ser útil para a humanidade, mas só me sinto como um armário sendo comido por cupins que as pessoas só percebem estar se deteriorando depois de anos, quando já está despencando e não tem mais salvação.

Foi-se o tempo em que eu chegava em casa com o sorriso de nuca a nuca, dando pulinhos só porque fiquei com o carinha que eu tava afim. Agora não tem mais graça. A gente vai ficando mais mulher e descobrindo que o mundo dos relacionamentos não é tão legal assim e que talvez ficar em casa ouvindo The Clash, lendo um livro sobre pessoas transtornadas e batendo uma só pra você seja mais legal. Sua mente pode ser muito mais divertida do que qualquer trepada por aí. Se o telefone tocar no dia seguinte, assusta. Dá medo. E eu tenho muitos medos. Você já teve medo do seu lado esquerdo? Eu tenho medo do meu lado esquerdo e odeio tudo que fica nele. Às vezes sinto ele mais pesado, amarrado por alguma coisa, principalmente no braço. “A”-coisa falou que é ansiedade. Quanto mais ansiosa, mais o meu lado esquerdo se manifesta. E dá medo.

Se eu fosse do exército vermelho teria metralhado todo mundo com o maior gosto. E daria risada depois. Cansada de encenar e encontrar aquela garota ontem me faz mal, porque eu fui simpática, dei um sorriso, um abraço e perguntei como ela estava, mas na verdade eu não gosto dela. Ela é idiota, interesseira e oportunista e não mereceria meu sorriso. Ter sido falsa não me fez bem, mas ela não sabe que eu não gosto dela. É que entre crianças não existem diferenças. Só que esse tempo já se foi. Ela merece um soco no olho esquerdo. É. No esquerdo.

Se a vida fosse um computador o certo seria fazer um scandisk.

00:53 +


segunda-feira, março 28, 2005

Eu não amo deus e o mundo

Quando o dia começa mal, ele vai terminar mal. Não necessariamente, mas é bem provável. Eu irritada, você irritado, todos irritados e talvez ter ido brincar de virtualidade naquele momento não tenha sido algo legal, já que a vontade era de vomitar tudo na primeira pessoa que ousasse perguntar como eu estava. Não, eu não estou legal. Porque você pergunta se está tudo bem com alguém se a última coisa que você quer realmente saber é se aquela pessoa está bem? Você já parou para pensar na automaticidade das ações humanas? Sou personagem de um teatro sem fim, mas esse não é o problema, o problema é não ser a personagem principal. Eu quero ser destaque, eu quero todas as atenções voltadas para mim e às vezes o diretor me cansa. Porque ser tão teimoso, tão ranzinza, tão cabeça dura, tão cheiroso, tão lindo, tão perfeito? A vida em excesso é desgastante, mas é assim que deve ser vivida, pra quando chegar no fim, sentir que não sobrou nada de você. Olhar pra traz e ver que um dia você chorou demais, odiou demais, teve raiva demais, riu demais, transou demais, dançou demais, bebeu demais, saiu demais, leu demais, escreveu demais, beijou demais, errou demais, se entediou demais, produziu demais, ficou irritado demais, amou demais. Ver que você foi demais.

13:56 +


domingo, março 27, 2005

Estudo sociológico sobre o poder da caixa preta

Aquela caixa de informações vazias que entram em nossas casas sem pedir licença, aquela caixa do mundo do faz-de-conta, onde tudo pode acontecer e Lucas Silva e Silva já dizia isso. E aquela caixa, que pode ser preta e pode ser cinza, tem dedinhos que fazem os ponteiros do relógio girarem mais rápido e esses mesmos dedinhos ela enfia nos seus olhos, não te deixa ver mais nada que não seja o que ela queira. E, na verdade, ela é apenas um brinquedinho daquele monstro mimado e malvado que quer te levar embora com ele.

Enquanto isso, Machado de Assis e Fernando Pessoa apodrecem na estante.

15:36 +


sábado, março 26, 2005

One day you will understand...

E a bomba de Hiroshima parece que não pára de explodir e levar tudo o que vem pela frente. Os olhos de ressaca malvados, que levaram tudo e não deixaram nada, apenas aquela coisa que todos sentem, mas odeiam sentir. Aquela caneta verde não serve de nada, é só simbólico, e era a única coisa que estava ao meu alcance. O que deveria ser feito era pegar uma faca e assassinar a punhaladas todas aquelas coisas que existem, como a caneta verde que quis riscar a parede e foda-se se eu pareci uma ridícula, ninguém se importa se sua vida é uma merda, talvez Machado de Assis se importasse. Ou não, porque os personagens dele eram todos herdeiros. Dar risada do que passou ou chorar pelo que deu errado, ou sorrir pelo que vem vindo, pensar é um problema. Um dia, às seis horas da manhã. E eu nunca vou esquecer daquela árvore que me abrigou e aquela árvore foi amiga e tudo o que eu disse era verdade e os olhos de ressaca malvados gritaram coisas horríveis na minha cara. Eu odiei ouvir aquilo tudo e não tinha porquê todas aquelas coisas serem ditas. Sabe aquelas lanças que você enfia na cabeça dos outros e que pensa estarem cravadas na sua? Sem querer querendo ou com intenção não-intencional elas vieram parar na minha. Se aquela caneta verde fosse uma varinha de condão, a vida seria mais feliz. Ou se ela fosse uma borracha. E eu choro assistindo Malhação, livros românticos me tornam sensível, como daquela vez em que eu tive uma overdose Fernanda Young e quase morri. A gente percebe que está crescendo quando começamos a ter passado e a overdose Fernanda Young já faz quase três anos. É tão estranho quando a gente dá risada sozinha na frente da televisão, de piadas imbecis de gente babaca. Engraçado é morrer de rir sozinha na frente do computador e de repente sua mãe passa e acha que você é uma louca. A história ainda está para acontecer, estamos ainda no começo e o meu medo é um dia o diagnóstico ser transtorno bipolar, a mais nova mania da sociedade moderna. Ahn... vai tomar cu.

19:11 +


quinta-feira, março 24, 2005

Um pouco de ácool para esquecer a canseira do dia.
Mais um dia de trabalho, 15 reuniões, 6 contratos assinados, gente corrupta, interesseira, falsa, que chega de Audi em um lugar em que os trabalhadores ganham o suficiente para viver bem.
- Nada de ir pra ginástica! Estou cansado.
Então, aquele homem de quase 54 anos, contente por estar trabalhando, mas cansado da carga de trabalho, senta-se no balcão do bar e toma uma água tônica. E depois da água tônica um pouco de álcool, porque ele merece.
Ele merece porque é um homem ético, honesto, sempre defendeu os fracos, ajuda a quem precisa, viveu intensamente, teve muitas mulheres, amou profundamente algumas, outras foram apenas diversão, e outras o amaram mais do que tudo sem serem correspondidas. E ele leu Marx, gosta de Trótski e Lênin, defende a revolução de Fidel, odeia os conservadores e reacionários, sabe de história, de política, de botecos, da vida.
Ele merece porque é um cara mais do que especial.
Depois de tomar aquela que lhe faz bem, aquele homem que todos no mundo deveriam ter a oportunidade de conhecer, vai para casa. Cansado.
Tomate, cebola, carne, temperos. Um milho, um vinho e histórias para contar enquanto seu jantar não fica pronto. Conta sobre o seu dia, sobre seus amigos, critica uns, aquela mulher horrorosa, a outra do Audi e aquele cara que posou pra G Magazine e diz “a mãe dele quer que você case com ele”, e pra ele é tudo culpa do chocolate e “vamos jogar essa lavadora pela janela, e no lugar dela colocamos o liquidificador”. Ele pode parecer chato por criticar tudo e todos, mas ele sabe o que está falando.
Ele sabe o que está falando e ela sabe o que está ouvindo. Ela ouve, pensa, analisa, sente. E aquele início de madrugada se torna um fim de um dia feliz.
Feliz porque ela ama.
Ama aquele homem mais do que qualquer coisa no mundo.
E os dois dormem em paz.

13:31 +


segunda-feira, março 21, 2005

Nothing hurts like your mouth

Alguém poderia me explicar porque eu preciso ler pra escrever? E porque eu gosto de escrever? Só que eu gosto de escrever quando dói. E doer dói. Então eu preciso doer pra escrever, e escrever me mantém viva, logo eu me mantenho viva quando estou doendo, me mantenho viva quando estou querendo morrer. Preciso querer morrer para viver. Que paradoxo.

Escrever talvez seja um meio de me livrar da minha dor. Por isso talvez me faça bem. É um remédio. E remédios viciam, então eu sou viciada em escrever. Sobre mim. Eu gosto de escrever sobre mim, sobre os meus problemas, sobre o que eu sinto, sobre o que eu passo, sobre o que me dói. Adoro essa palavra: dor. Dói falar a palavra dor. E a palavra cicatriz também é bonita. E também dói falar "cicatriz". E o que é bonito dói. A palavra "cicatriz" dói, a palavra "dor" dói e as duas são bonitas. E tudo o que é belo dói. Dói olhar pra você e ver o homem mais lindo do mundo. O amor é lindo, mas dói demais sentir. A saudade é bonita, mas dói.

Posso ser uma mulher individualista (sim, mulher, porque agora eu sou mulher), que só gosta de escrever de si mesma. Mas é a partir do que eu sinto, do que eu passo, que eu começo a pensar no mundo. E toda essa minha dor do mundo me faz querer melhorar o mundo, e me faz uma pessoa crítica e talvez eu me torne uma jornalista igual a todos os outros pau-mandados da grande mídia, ou talvez eu me torne dona das minhas próprias opiniões, mas pobre, falida, depressiva. E dolorida.

Dói ler aquelas duas letrinhas, uma embaixo da outra. Dói, caralho! Me dá dor de estômago, dá vontade de vomitar, de quebrar tudo. Dói ouvir o som daquelas duas letrinhas, que são marca registrada. E isso é porque quem procura acha. Eu procuro, e acho. E isso dói. E eu tenho vontade de falar todos os palavrões do mundo, aqui mesmo, dentro dessa redação de revista, enquanto uns estão desesperados pra fechar a edição, outros ficam no telefone falando sobre o show que vai rolar na Funhouse e outros, como eu, ficam atrás de literatura na internet, se dóem, e ficam querendo escrever. Até que alguém fale: Luísa, você falou com aquela modelo? Luísa, liga pra esse número. Luísa, e a entrevista do João Gordo? Luísa, te mandei um e-mail. Luísa, Luísa, Luísa.

Okay. Estou no trabalho. Preciso trabalhar. Preciso continuar construindo minha vida e acho que estou descobrindo o que eu realmente gosto de fazer, o que realmente me atrai: música, literatura, política, amor, balada e sexo. Queria ganhar dinheiro só com isso. Fazer entrevistas é legal, ficar dentro de uma redação é legal, estar na faculdade é legal.

Falar de mim é legal.
Agora, só me resta doer.

12:31 +


sábado, março 19, 2005

Between my love and my agony

E o passado insiste em aparecer. E ele entra pela janela dançando, como um vento frio, dizendo que estava com saudades. Que estava com saudades e veio me ver. E ele cheira a couro carente, a couro de que precisa de proteção, a couro que fuma maconha, a couro que quer alguém que cuide dele. E o que foi vem e não quer ir embora, e aquele dia volta à memória. Aquele dia em que os sentimentos se confirmaram e ao mesmo tempo em que foi a melhor coisa do mundo, foi o começo do fim do mundo. O fim do mundo se dará através de explosões, muitas delas, que levará tudo o que já foi.

E eu me sinto como uma mãe, eu quero cuidar, eu quero pegar, e aquele cara de ontem falou o que eu estava pensando e tudo o que eu penso parece já ter sido dito. E aquele cara de ontem falou a verdade sobre a realidade ilusória, falou mal, criticou, mas ele estava com um copo de cerveja na mão. Está todo mundo no mesmo barco, e existe uma comunidade no orkut que me deixa triste e será que aquelas pessoas estão sendo sinceras? E será que eu serei como elas? E eu aprendi a perguntar porquê. Porque se você perguntar o porquê das coisas, você está no caminho do conhecimento, e as três visões de éticas clamam pelo conhecimento, indiferentemente do caminho que você fará para alcançá-lo. Se você se perguntar porque, você consegue fugir de ser uma marionete, mas você quem sabe se isso pode te trazer felicidade.

Pára! Pára! Ele está me cutucando, mas eu também estava com saudades. Estava com saudades porque o que eu achava parecia ser e foi, mas depois não era mais. O cheiro de Estação Morumbi de trem vai e volta, e o cheiro da piranha pendurada no teto, e todas aquelas coisas amontoadas ao lado da cama, os cds empoeirados e a Hebe Camargo sorrindo pra mim. Vamos lá, chega de sentir cheiros! Vamos curtir, ver os amigos, conversar sem o esforço de pensar nas coisas, vamos apenas seguir, deixar o que é externo nos carregar. E ele vem e me leva mais longe ainda, naquele dia que eu tinha 50 reais pra pegar um ônibus e esqueci minha chave, e nós brigamos muito e era gravação de um vídeo-clipe e uma garota se achava a estrela da noite por estar em frente às câmeras, e ele também me leva aqui perto para ver o longe, e foi quando ele me pediu um beijo e eu disse que não e aquele dia de constrangimento ficaria pra história das nossas vidas. Da minha vida. Da minha insignificante existência.

Vamos! São quase nove horas e a vida feliz está em viver anestesiado e vamos tomar cerveja, desejar a acidez do mundo, a agonia do mundo, o amo.r do mundo. O Amor do mundo. Vamos passado, pule a janela, me dê suas mãos frias e calejadas, e me leva daqui praquele lugar de onde você veio, em que eu sorria com o coração, mesmo sem saber porque.

20:42 +


sexta-feira, março 18, 2005

O Monstro...

O embasamento cultural, embasamento, perspectivas, irracionalidade... É tudo a crise da modernidade. Tudo se explica pela crise da modernidade, suas promessas cumpridas em excesso e seus déficits destruidores. Qual meu papel? Viver a crise. Viver em contradições. Culpa da crise da modernidade, dos mecanismos emancipadores e reguladores do indivíduo. Sentir-me como marionete. Sentir-me no Big Brother. É uma questão de querer ir fumar maconha, de ter que fazer entrevistas, de não ter tempo, de ser manipulada, de ficar triste, de ter saudades, do ônibus ter aumentado, de querer antropofagia, de não conseguir dormir, de viver futilidades, de ter planos, de ser limitada, de precisar de amor, de ter raiva, de querer ir embora, de cortar o cordão umbilical, de querer a revolução armada, de estar em crise. Na crise da modernidade.

17:30 +


quarta-feira, março 16, 2005

Listen, do you want to know a secret?

Pensando ainda sobre o significado das coisas e a crise da modernidade...
Seu “bom dia” não quer dizer merda nenhuma. Não me dê bom dia, porque nunca mais terei um dia bom. Tudo automático. Automático como movimentar as pernas, que levam a sabe-se-lá-onde. Caminhar, caminhar, caminhar, que atividade... Ninguém nunca parou pra pensar sobre o ato de caminhar? Caminhar é libertação. Muito mais libertação do que o conhecimento. Livre e infeliz, preso e feliz. Horrível ter que fazer essa escolha. Eu já fiz a minha. Eu já fiz a minha e às vezes me pergunto até que ponto estou certa dela. Mas não importa, ela está feita e não há como voltar atrás. É tipo a morte: não tem volta. Morreu, morreu. E talvez a morte seja relativa, talvez nem vivamos nesse mundo que achamos que vivemos, talvez Jostein Gaarder esteja certo. Talvez Jostein Gaarder seja deus. Seja Absoluto. Ou não. Talvez Marx seja deus. Talvez os materialistas sejam deus, e eles não fazem a menor idéia dessa possibilidade. Imagine: um materialista deus? Eles nunca admitiriam. Eu queria ter conhecido Epicuro. Na verdade, me pergunto: porque a gente tem que ser feliz? Quem disse que isso é o bom? Talvez ser triste seja uma das melhores coisas da vida. Porra, pensa em tudo o que você pensa e faz quando está triste. A tristeza move o mundo! Estar triste significa pensar, estar triste significa sentir muito mais profundamente, estar triste significa... Foda-se o significado da tristeza, e foda-se a moral e os costumes e foda-se tudo aquilo que não é emancipador. Você falava de monstros que só você poderia ver. Agora eu vejo também, mesmo tendo te dado meus olhos para tomares conta. Talvez seja por isso, você tomando conta dos meus olhos, leva-os para onde você quiser e mostra-os o que você vê. Conta, conta, conta, então conta!!! Você sabe o que precisa me contar. E eu estou esperando a história começar.
Tenho medo de ficar louca.

Pode ser muito cedo pra entender.

18:31 +


domingo, março 06, 2005

Speed, speed, speed...

Tudo ilusão.
Ilusão pensar que a vida é uma balada, que todas as pessoas são legais, que dançar música eletrônica é a melhor coisa do mundo, que todos são seus amigos.
A balada é uma espécie de droga.
Balada regada a drogas e relações afetivas falsas e superficiais é uma espécie de suicídio.
Um suicídio lento e gradual.
Baladas são feitas para as pessoas sozinhas e tristes se anestesiarem.

Cinco horas da manhã São Paulo já começa a funcionar. Ônibus, carros, pessoas indo para o trabalho. Pessoas voltando da balada.
Pessoas voltando da balada, muito loucas, como se a noite tivesse sido a melhor de suas vidas. A loucura é tanta que não é possível nem mais sentir o corpo. Caminhar quilômetros e quilômetros não faz a menor diferença, o importante é caminhar, sem destino, em passos rápidos, como se fugisse de algo. Como se fosse atrás de algo. Algo indefinido. Talvez fugindo da ilusão em busca de outra ilusão, porque a realidade não é perseguida por ninguém.

O coturno aperta, as costas doem, a maquiagem está borrada e ela se sente forte. Não pensa, apenas sente. Apenas tem autoconfiança. E não queria que a balada tivesse acabado. E não queria sair da sua ilusão. E não queria fugir de sua acidez. E queria falar com alguém às seis horas da manhã.
Em casa, pensa nas pessoas. Pensa nas pessoas da balada. Que transparecem felicidade, determinação, mas que na verdade talvez se sintam pior do que ela. Está nos olhos. Os olhos, que são a janela da alma, os olhos… Os olhos que te dei. Os olhos mostram a fuga de todas essas pessoas. Lembra de um cara trash, muito bêbado, que deixava transparecer sua carência, sua tristeza. Dançando se aliena do mundo.

Os caras não entendem que ficar pegando não é legal?

Todos os mecanismos existentes são utilizados para anestesiar a sociedade. A droga, a balada, a TV, o rádio, a internet, as propagandas publicitárias, a religião, o consumo, os relacionamentos falsos. Até o amor virou produto. Para alguns, anestésico. Enquanto há as pessoas que não percebem que fazem parte desse teatro e continuam em busca da felicidade ilusória, há aquelas que percebem o meio no qual estão inseridas e se desesperam com isso, e o único remédio que conseguem visualizar é a maior de todas as fugas: a morte.

A balada acabou.
A droga também.

“Bem-vindo ao pesadelo da realidade”.

17:15 +


quarta-feira, março 02, 2005

How can I live - when you won´t let me in?
How can I die - without reasons why?
How can I laugh - when I want to cry?
How can I go on - with nothing nowhere?
How will I make it?








15:56 +


sábado, fevereiro 26, 2005

Cookies de Maconha

3/4 de uma xícara de manteiga
3/4 de uma xícara de leite
7 colheres de chá de pétalas de flor de maconha
1 ovo

Bater por 5 minutos e acrescentar
3/4 de xícara de açúcar
1 colher de chá de extrato de laranja
3/4 colher dechá de noz moscada

Misture peneirando
1 colher de chá de fermento
2 xícaras de farinha
Bater com mixer.
Assar ao forno brando por 30 minutos
Resultado: 28 cookies.

Fonte: Revista TRIP#54

22:36 +


segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Shows do Nucelar Assault e Sodom, dia 20 de fevereiro, no Directv Music Hall


Nuclear Assault:

O show do Nuclear Assault, banda que abriu a noite, foi um show, pelo menos na minha opinião, sem mais e sem menos. Ou seja, nada de mais. Lógico que os caras mandam bem, tocam pra caralho, mas não acho que teve nada de muito espetacular. O batera é um cara que eu classificaria como o “Senhor Viradas Perfeitas”. Pois é, o cara fazia umas viradas fantásticas. O guitarrista, que já tocou no Anthrax logo no começo, um homem absurdamente alto, também fez o seu showzinho à parte. O vocal era engraçado: dava uns berros fenômenos mas parecia não articular muito a boca... Notei (eu que não conhecia a banda), que os caras têm bastante influência de hardcore. O show teve duração de uns 45 minutos, o necessário para aquecer os metaleiros pro show do Sodom.


Sodom:

Violência, energia e presença de palco são termos que podem definir o que foi o show do Sodom. Os caras simplesmente foram os donos da noite. Entraram no palco de repente, quando ninguém esperava e já começaram arregaçando. Logo no intervalo da primeira para a segunda música já rolou uma interação com o público, Tom Angelripper olhou para a galera como quem diz: Isso aqui está lindo!. E realmente estava, mesmo não estando cheio, aliás, longe disso. Mas o que conta é que o povo estava animado demais e cantando muito. E nesse pequeno intervalinho de música, os caras do Sodom já ganharam alguns presentes, como uma camiseta da Venom, que jogaram lá do meio, na sequência uma camiseta do Sodom e, por último, um belíssimo sutiã vermelho, que o vocal pegou, enrolou no pescoço e cheirou. E o público vibrando. E durante toda a noite foi assim, Tom comandando o show, conversando com a galera, dando Vodka pra beberem... Musicalmente, os caras também destruíram. O guitarrista Bernemann simplesmente é um monstro: fazia uns solos absurdos na maior velocidade. Lindo de se ver. Rolou a participação em três músicas de um ex-guitarrista do Sodom e ex-Kreator, que hoje mora no Brasil e no final do show, um cover de Motorhead. E os cabeludos lá, chacoalhando as cabeleiras e cantando com a alma. Tirando o som, que estava um pouco ruim (pelo menos um pouco melhor do que o do show do Misfits), a uma hora e quinze de show do Sodom não deixou a desejar.

Nos bastidores...

Depois do show, o pessoal que ganhou o ingresso na promoção da Brasil2000, foi todo lá para o camarim. Primeiro fomos no camarim do Nuclear Assault, mas foi um pouco esquisito... Os caras pareciam estar muito loucos e não entendendo muito o que tava rolando... O vocal passou correndo, falando que voltava em 5 minutos e sumiu. O batera, o Senhor Viradas Perfeitas, ficou sentadão no sofá, autografando milhões de cds e ingressos e tirando fotos, meio viajando na dele. O guitarrista Senhor Grandão deu uma passada por lá também, mas nada de mais. Depois, fomos para o camarim do Sodom. Meu, os caras são pura simpatia, principalmente o baterista Bobby Schottkowski, que não parava de falar um minuto. Ficou o tempo todo encanado comigo: ficava futucando no meu alargador, puxando meu cabelo... O Bennermann parecia estar meio perdido: ele autografava o material do pessoal e ria das piadas do Bobby. Tom não falou muito, mas foi simpático e gentil com todo mundo. A simpatia no palco foi a mesma lá dentro. Muito legal! Não posso deixar de agradecer à Paula e o Magoo que foram ótimos, muito legais! Eu tinha oferecido o ingresso que eu ganhei para um amigo meu, que foi quem me apresentou a banda. Mas ele não quis... Ainda bem! Porque o show foi fodidamente foda!

11:48 +


quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Odeio aquelas pessoas que dizem "eu te amo" para dez pessoas diferentes no mesmo dia.
Bleh.
Vômito.
Mas o que seria da ilusão sem elas?
É mais fácil viver da mentira.
Dói menos.

18:17 +


domingo, fevereiro 13, 2005

(...) Foi então que Fermina Daza teve a intuição dos motivos inconscientes que tinham impedido que o amasse. Disse: "É como se não fosse uma pessoa e sim uma sombra". Era isso: a sombra de alguém que ninguém jamais conhecera.

Gabriel García Márquez em O Amor nos Tempos do Cólera.

21:44 +


quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Levofobia: aversão e medo mórbido irracional, desproporcional, persistente e repugnante das coisas que estão do lado esquerdo do corpo.

Gostaria de saber se isso mata. E se mata, quanto tempo de vida eu ainda tenho.
Nunca pensei que eu fosse ter uma doença rara como essa.

Vou morrer de Levofobia.

16:27 +

Mais uma das minhas teorias que se confirma.
Quem sabe eu sou uma espécie de Nostradamus?
Tenho medo de mim às vezes.

Era uma coisa. Sempre foi uma coisa. Sonhos e sonhos...
Um ano, dois anos, três anos, quatro anos...
Acho que não é mais uma coisa. Não é mais a mesma coisa.
Mas ainda tem uma coisa.
Legal. Muito legal. Muito, muito, muito, muito legal. Mais legal do que se ainda fosse a mesma coisa.
Que estranha. Essa coisa é muito estranha.
Ficou uma coisa estranha.
Às duas da manhã.
Não sei o que sentir.

Depois dizem que certezas existem.


02:08 +


quarta-feira, fevereiro 02, 2005

O mundo dá voltas. O mundo não faz sentido. O mundo é uma redonda contradição. E pode ter certeza de que todas as suas convicções de hoje podem descer descarga abaixo amanhã. O que você acha hoje pode não fazer o menor sentido amanhã. Nada é certo e, quando parecer certo, foi o acaso.

Marilyn e Manson andam de mãos dadas. Coladas com superbonder.

Ontem você amou, hoje você odiou e amanhã talvez não faça a menor diferença e depois de amanhã talvez você ame de novo. É perfeitamente possível. É perfeitamente possível porque as pessoas usam apenas 10% da capacidade de seus cérebros.

Não entendo mais nada.
Nem quero entender.

16:20 +


sexta-feira, janeiro 21, 2005

Por exemplo, uma empresa só admite funcionários com experiência. Mas você não tem experiência. E ninguém te dá emprego porque você não tem experiência. Como você vai adquirir experiência?

Ou então, você tem uma doença horrível e por causa dela não pode mais trabalhar. E você precisa de dinheiro para fazer um tratamento. Só que você não pode gerar esse dinheiro porque você não pode trabalhar. Como você vai pagar o tratamento se não pode trabalhar?

É... É tipo isso.
É tipo isso que acontece.
É um círculo vicioso.

21:49 +


quarta-feira, janeiro 19, 2005

Existem muitas pessoas da espécie Don't matter what I say, only what I do.

Eu as odeio.
Essa espécie deveria ser extinta.

Humf.

19:22 +


segunda-feira, janeiro 17, 2005

Ontem foi um dia... digamos... "eu achava que isso só acontecia comigo".
É bom saber que não estamos sozinhos no mundo.
"Isso também acontece com você??"

Engraçado.

02:11 +


domingo, agosto 15, 2004

É difícil disfarçar; quando se quer gritar e tem de sorrir.
Um sorriso amarelo, que quase cheira a ovo podre.

Por isso, desconfie dos que sorriem para você.

19:48 +


quarta-feira, agosto 11, 2004

What's your take on Cassavetes?

We've talked about it in letters
And we've talked about it on the phone
But how you really feel about it
I don't really know...
Le Tigre

20:06 +


quinta-feira, julho 29, 2004


I'm trying
I'm trying
I'm trying
I'm trying
I'm trying
I'm trying
I'm trying
I'm trying - Pavement

Mas está difícil.
Ah... se a vida fosse apenas comer carolinas... 


19:15 +


segunda-feira, julho 19, 2004

Pedro Pedreiro
 
Cansada de ser como Pedro Pedreiro.
Cansada de pensar como Pedro Penseiro.
Cansada de esperar o trem, que não vem, que não vem, que não vem...
 
"(...) Pedro Pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol,
Esperando o trem,
Esperando o aumento,
Desde o ano passado até o mês que vem
 
(...)
 
Pedro não sabe, mas talvez no fundo
Espere alguma coisa
Mais linda que o mundo
Maior do que o mar..."
Pedro Pedreiro - Chico Buarque

13:49 +


sexta-feira, junho 25, 2004

O texto que segue abaixo é um texto de Clarah Averbuck, que eu tenho guardado há muito tempo. Ele foi escrito em novembro de 2002, época em que eu estava lendo o livro dela mais famoso, "Máquina de Pinball".

Não quero entrar na discussão quanto ao conteúdo da maioria das coisas que ela escreve, se é fútil ou não, se há uma crítica ou não, não quero falar sobre a escritora e sua personalidade, muito menos sobre se ela faz Literatura ou não. A questão nesse momento é que, na época em que eu li esse texto pela primeira vez, apesar de não ter nada a ver com a minha vida, me chamou a atenção de certa forma. Gostei dele na primeira leitura: uma espécie de tapa na cara. Gostei por ser um texto direto, sem meias palavras, em que ela consegue transmitir o que sente sem enrolações, de maneira simples, sem muito romantismo e com frases de efeito.

O texto, intitulado "Eu, Você e a Pangea Rachada", estava guardado até agora, esquecido numa pasta do Word. É hora dele mostrar as caras novamente, mas não mais através dela: pelas minhas mãos. Tomo como minhas as palavras de Clarah Averbuck:

Eu, você e a Pangea rachada
Para o mesmo de sempre, o de antes

"Nunca mais vou acreditar em uma palavra saída desses seus dedos sujos, sejam elas roubadas ou aquelas de espuma branca que só você sabe fazer. Nunca mais.
Nunca mais quero ouvir a sua voz, te ver, te ler, te lembrar. Nunca mais quero ser sua amiga e ouvir o amargor de menino cristão, nunca mais quero te dar ombro quando você disser que está sem amor. Não quero, não quero, não vou.
Nunca mais, nunca mais, nunca mais.
Não mais amantes há tempos, agora, não mais amigos, não mais nada, nada, não.
Nunca mais vou ter paz. Não existe paz, só o meu cérebro fervilhando, entrando em erupção por cada fio de cabelo, cada poro, cada gota de suor.
E só você entendia.
Ou fingia entender.
Ou eu, idiota, inventei que você entendia porque tinha inventado tudo sem saber sobre a cordinha na sua mão.

A maior invenção do mundo até me puxar descarga abaixo.

Não vou te mandar me esquecer porque você já esqueceu.
Não vou te mandar sumir porque você já sumiu, sem adeus, sem uma carta, aviso prévio, bilhete suicida. Nada, simplesmente sumiu no silêncio do telefone mudo.
Eu já sabia.
E o pior, querido, é que você entendeu tudo errado.

Puxa a descarga mais uma vez, puxa com força e enfia sua cabeça lá dentro, deixa a água correr e tenta entender direito na próxima vez.

Você só perde.
Azar. Seu, meu, do resto do mundo.
Eu já sabia.
Você estraga tudo, tudo, tudo.
Obrigada por estragar tudo.

De novo. Do mesmo jeito covarde, aquele silêncio mentiroso que mata. Não saber mata. O silêncio é uma espécie de mentira. Prefiro um tiro no peito, o sangue jorrando e o mundo se esvaindo do que a dúvida me corroendo.

Você estraga tudo.

Mas foda-se.

Não quero mais brincar com você. Nunca mais. (...)"

Ps: Cortei o último parágrafo porque não gosto dele.

16:17 +


sexta-feira, junho 11, 2004

Diálogo de uma história sem pé nem cabeça...

- Eu tenho medo de te perder.
- De ME perder?
- É...
Pausa.
.
.
.
- Você que não quer me ter.

=>Não está morto. Mas as lágrimas correm porque a noite não me pertence.

19:09 +


domingo, junho 06, 2004

It's broken and bleeding, and we can never repair...



Parte 1:
Tudo o que ela tocava se quebrava em mil pedaços, e ela deixava todos os cacos ali ao chão, esperando para serem varridos por alguém.

Parte 2:
Tudo o que ela toca não se quebra mais em mil pedaços, e ela procura freneticamente recolher e colar todos os cacos quebrados no passado. Mas muitos deles já foram varridos e estão no lixo, sem a possibilidade de serem resgatados para, um dia, juntarem-se aos seus outros irmãos cacos e voltarem a ser uma peça única, mesmo que com cicatrizes profundas.

21:37 +


terça-feira, junho 01, 2004

Am I going crazy?

Os loucos não são loucos.
São apenas pessoas incompreendidas.
A humanidade não acredita na existências de homens-leões.
Para ela, os homens deverão sempre pensar e agir como todos os outros.
E os leões deverão ser para sempre os reis dos animais.
Quem não for inteiramente homem, ou inteiramente leão, é tido como louco.

Guerreiras famosas gostam muito de homens-leões.

19:05 +


domingo, maio 16, 2004

Virar borboleta, quem sabe...

Ela não gosta do inverno. Acha essa estação do ano um tanto quanto melancólica, principalmente quando as nuvens negras insistem em não ir embora.

Deitada em seu macio colchão na madrugada, se encolhe o máximo que consegue e enrola seus pequeninos pés no meio dos edredons, tentando proteger-se do frio, que parece querer castigá-la. Olhando ao seu redor, tem a impressão de que tudo a observa, a todo e qualquer movimento ou pensamento que tenha. Seu quarto parece ler inclusive seu inconsciente, parece querer dizer-lhe algo, mas ela sente dificuldade para compreender.

Ao lado de sua cama, em cima do criado-mudo, não há uma foto dele, para quem ela olharia sempre antes de dormir - e adoraria que fosse assim. Há apenas, amarrado ao abajur, um cordão com um pingente de pedra de quartzo, que ganhou de um espanhol simpatizante dos zapatistas numa noite chuvosa de verão. A estação que ela mais gosta.

12:52 +


domingo, maio 09, 2004

Quando ela era um verme…

Fizeram as pazes.
Ela o perdoou. Na realidade ele nunca fez nada de mau a ela e será a última pessoa no mundo capaz de feri-la. Ela que lhe pede perdão.
Foi tola em não acreditar nele, mãos tapavam os olhos da moça, mãos que talvez fossem as dela própria. Mas agora ela pode enxergar, mesmo tendo a visão ainda um tanto quanto turva, as imagens formarem-se sem muita nitidez.
Às vezes ela se surpreende com a vida. Ficou impressionada com o fato das pessoas só darem o devido valor às coisas quando elas não estão ao alcance de suas mãos. E no tempo que eles estiveram longe, brigados – por culpa dela -, a moça percebeu o quanto ele valia… Valor incalculável.
Ela será eternamente grata a ele, por ajudá-la em muitos problemas, fazê-la enxergar a vida por diferentes perspectivas, por reerguê-la, por fazê-la sorrir, por fazê-la amar, por existir.
“A distância não é capaz de medir sentimentos”, disse ela, “assim como o calendário também não: se estou à sua espera há 7 anos – para não falar toda a minha pequena existência -, espero quanto tempo mais for necessário, nem que eu morra e te encontre somente em outro plano. Te amarei para sempre.”

Eu gostaria de te ter comigo.

Eu amaria viver essa mentira.
Eu amo viver essa mentira.



É… Caso de internação.

21:11 +


sexta-feira, maio 07, 2004

Um caso em particular - Parte II

Um beijo em um sapo tornou-o príncipe.
Mas príncipes existem somente em Contos de Fadas.
Quando a Bela Adormecida acordou de seu sono profundo, não viu o Príncipe Felipe sorrir-lhe com amor. Viu um belo sapo, de uma beleza que jamais vira igual, mas que, como todo sapo, ficava estático vendo o tempo passar, alheio ao mundo, coachava e comia moscas.
...



...

A Bela Adormecida deu-lhe um cigarro aceso.

=> Para uma melhor compreensão, consulte o post do dia 21 de março.

21:29 +


segunda-feira, maio 03, 2004

Deformografia - Rockstar, you're such a dirty, dirty...



Ele: Eu sou o único que você quer e o que você quer é tão irreal...
Eu: Você é o único que eu quero e o que eu quero é tão irreal...

18:08 +


quinta-feira, abril 29, 2004

Minha mãe é a pessoa mais linda do mundo!
Estava eu sentada em minha mesa de estudos, lendo sobre bases, óxidos, oxiácidos e tentando fazer algumas reações de neutralização, lembrando de como o Abner é uma pessoa singular, quando minha mãe, chegando do serviço, entra no meu quarto com uma sacola.
Uma sacola pra mim. E nesta sacola tinham presentes. Presentes pra mim.
Sete presentes.
Sete presentes pra mim.
Os melhores presentes que eu poderia ganhar!
Minha mãe sabe investir dinheiro nas coisas certas.
Só me resta saber quando eu vou poder usufruir deles.


Sagarana - João Guimarães Rosa. Editora Nova Fronteira.


Poesia - Alberto Caeiro - Fernando Pessoa. Companhia das Letras


Ilíada - Homero. Martin Claret


O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez. Record.

E mais três que eu não achei imagens:
O Ano da Morte de Ricardo Reis - José Saramago. Companhia das Letras.
A Poética Clássica - Aristóteles. Editora Cultrix.
Saramago - um roteiro para romances - Eduardo Calbucci (sim, sim, sim, sim, meu professoorrr!). Ateliê Editorial.

Isso me deixa feliz.
Ganhei mais sete amigos, mais sete companheiros.
Os melhores que alguém pode ter.
Pra concluir: minha mãe é linda.

20:11 +